terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Pitty faz rock na medida em "Chiaroscuro"


O Que não foi Dito
Opinião de Cd
Título: Chiaroscuro
Artista: Pitty
Gravadora: DesckDisc
Cotação: ***

Quando Pitty surgiu no mercado fonográfico, em 2003, com seu (bom) primeiro disco, Admirável Chip Novo, muita gente torceu o nariz para o rock pesado e cru da cantora. Mas muita gente também gostou do álbum e atribuía a ela o (apressado e equivocado) título de nova sucessora de Rita Lee no trono rock (este assumido com muita mestria por Cássia Eller durante os anos de sua curta – e rica – trajetória na música). Pois é, acontece que, em 2005, a cantora lançou seu segundo (fraco) álbum Anacrônico, frustrando todas as apostas e expectativas, e dando razão para aqueles que torciam o nariz para seu trabalho. Em 2007 decidiu por lançar {Dês}Concerto Ao Vivo, seu primeiro registro em cima dos palcos, que gerou, além de Cd ao vivo, um frustrante segundo DVD (já que o primeiro havia sido lançado em meados de 2004 contando com os clipes da cantora e algumas entrevistas). Eis que, neste ano de 2009, fim de década, Pitty retornou e lançou Chiaroscuro. A expressão italiana usada como uma técnica dos pintores vitrovianos do século 18 (que significa claro&escuro) consegue traduzir bem este novo álbum da cantora baiana. O disco é superior aos seus dois discos de estúdio, e parece tentar dar upgrade na carreira da roqueira. A sonoridade crua continua presente, mas agora trabalhada com mais classe e profissionalismo. Os discos não soam mais como uma grande festa sem sentido (Anacrônico e {Dês}Concerto Ao Vivo) nem como o grito mudo de uma rebelde sem causa (Admirável Chip Novo). A balzaquiana Pitty evoluiu.

A evolução é notada já na faixa que abre o disco, “8 ou 80” tem letra interessante e já dá um bom aperitivo do rock que a cantora pretende mostrar no álbum: cru, porém muito bem trabalhado. Apesar da segunda faixa do álbum, a balada “Me Adora”, dar um ar insosso ao disco, a pista é falsa. A balada é a faixa de trabalho do álbum, e um dos pontos baixos. “Medo” também não é um grande momento do álbum. Apesar do bom arranjo, a letra deixa muito a desejar. Vale lembrar que Pitty não é a compositora inspirada que pensa ser, mas faz a sua parte no atual (escasso) cenário do rock brasileiro. “Água Contida” é outro momento do disco onde arranjo se sai melhor que a letra. Apesar da fraca letra é interessante o flerte que Pitty faz com a música tipicamente latina e eletrônica (um quase tango pseudo-eletrônico). “Só Agora” é uma balada chata, completamente desnecessária. E “Fracasso” também não é uma grande canção, com letra que tenta traduzir o sentimento punk ao falar de um cidadão escravo da sociedade. Melhor faixa do álbum, “Desconstruindo Amélia” tem letra e arranjo interessantes. Pitty, nessa faixa, mostra que está crescida, com direito a nítidas citações de Balzac. A cantora faz ainda com que a canção converse com o cenário mais conservador da MPB, fazendo alusão à “Amélia” (aquela que era mulher de verdade). Pitty está inteligente (assim como em seu primeiro álbum ter a inteligência de transformar em refrão a máxima “o homem é o lobo do próprio homem”). “Rato na Roda” é outra faixa que chama mais atenção pelos arranjos turbinados que pela letra em si. A confusa “Trapézio” destoa um pouco do disco, deixando uma sensação de confusão no ar. “A Sombra” é faixa pretensiosa, mas com bela harmonia, com arranjos noturnos que, apesar da letra pueril, ganha destaque no álbum. “Todos Estão Mudos” fecha o álbum, criando um anticlímax com a faixa anterior. Um rock pesado de ambiência progressista. Mas que cumpre seu papel dentro do álbum.

Chiaroscuro faz com que Pitty feche a década deixando a boa impressão de que sua obra pode crescer daqui pra frente. O melhor disco da cantora até então. E que venham outros (!).


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