domingo, 26 de junho de 2011

Marina estreia "Climax", o show romântico



Opinião de show
Título: Climax
Artista: Marina Lima
Local: Teatro do Sesc Vila Mariana – São Paulo
Data: 24 de junho de 2011
(Em cartaz até 26 de junho)
Cotação: ****

Inspirada em seu último álbum, Climax, Marina Lima estreou na noite de sexta-feira (24 de junho) a turnê nacional do show homônimo. O Teatro do Sesc Vila Mariano foi palco para a estreia do novo show da cantora, que conta com um público fiel, prova é que o teatro estava lotado. O show conta com direção e cenografia do arquiteto Isay Weinfeld que, tenso, manteve-se inquieto em sua cadeira.
O show foi aberto de forma fria com três hits da carreira de Marina que pouco renderam:
“Fullgás”, “À Francesa” e “Virgem”. Nitidamente nervosa, Marina manteve-se sóbria em cena, sem falar com o público. O show esquentou mesmo quando a cantora apresentou a primeira canção inédita do show, “Não me Venha mais com Amor”, sua deliciosa parceria com Adriana Calcanhotto. O cenário de Isay Weinfeld dialogava muito bem com as canções, principalmente ao mostrar um belo céu estrelado que remetia aos versos “noites de ver estrelas sob o teto do quarto, noites de esfriar o calor” da parceria de Marina com Calcanhotto. Os painéis móveis casavam muito bem com o lindo jogo de luz, principalmente em “A Parte que me Cabe” que, sem o dueto com Vanessa da Mata, cresceu. “O Chamado” e “Call Me” (um dos destaques do álbum que cresceu no palco) receberam belíssimo tratamento cênico, enquanto “Me Chama” se escorou no belo cenário que remetia a chuva da letra. Os arranjos eletrônicos também ajudaram a canção a crescer, mérito da dupla que acompanhava Marina Lima em cena. “Somos os três mosqueteiros” brincou a cantora, que foi acompanhada em cena dos competentíssimos Alex Fonseca e Edu Martins. Única canção deslocada no roteiro, “Difícil” soou trivial no fim das contas. Tinha mais sentido nas últimas duas turnês de Marina, Primórdios e Topo Todas Tour. Uma das boas surpresas do roteiro foi “Deixe Estar”, o belo hit do álbum Pierrot do Brasil revivido por Marina em clima depressivo, quando a cantora vestiu capa verde (que, em tese, pode representar a esperança) e vagou perdida pelo palco vazio. “Charme do Mundo” ressurgiu jovial, abrindo caminho para a deliciosa “Doce de Nós” seguida de “Pra Começar”, que teve seu charme constituído nos óculos escuros usados pela cantora em clima “bate estaca”. Outra ótima surpresa do show foi a canção “Veneno”, a versão de Nelson Motta para “Veleno” gravada por Marina em 1984 em eu álbum Fullgás. “Veneno” ressurgiu com fôlego contando com belo efeito cênico, em que a cantora, presa às marcas teatrais, espirrava pó sentido a plateia. O momento mais belo do show foi o dueto de Marina com Karina Buhr, reconstituindo o dueto gravado em estúdio na belíssima “Desencantados”, destaque da atual safra de inéditas de Marina. Com Buhr, Marina apresentou jogo cênico que representava os encontros e desencontros tratados na canção (parceria de Marina, Buhr, Edgar Scandurra e Alex Fonseca). “Lex” emergiu vitoriosa no palco, antecedendo a maior (e melhor) surpresa do show: a abordagem de Marina para “In my Life”, a deliciosa canção dos Beatles. Foi a primeira vez que Marina abordou a obra dos Beatles e, espera-se, não seja a última. A canção foi solar. O show foi encerrado (antes do BIS) de forma fria. Bela, mas fria. Sentada com seu violão Marina abordou em clima bossa-nova “#SP Feelings” que contou com o mais belo cenário do show. A cantora voltou ao palco para interpretar “Pra Sempre”, a parceria de Marina com Samuel Rosa, e encerrando o show com “Mesmo que Seja Eu”, o sucesso de Erasmo Carlos que gravou em 1984.
Romântico, Climax é belo show. Mesmo não sendo tão festivo quanto seu antecessor, Topo Todas, é um show que merece registro por sua aura teatral e por se impor como um dos melhores shows de Marina nos últimos anos. Mas se houve falta sentida foi do (ótimo) rock
“Keep Walkin”, uma das melhores canções da atual safra de Marina Lima. Climax, o show, vale ser visto.

Marina revive "Veneno" e toca Beatles em "Climax"



Marina Lima (em foto da RG Vogue) apresentou duas grandes surpresas na estreia nacional de seu novo show, Climax, em São Paulo. A cantora interpretou "Veneno" (bela canção gravada em 1984 em seu álbum Fullgás) e "In my Life", o delicioso hit dos Beatles recriado por Marina com maestria em cena. A única falta realmente sentida foi da deliciosa "Keep Walkin", uma das melhores canções da nova safra autoral da cantora. Veja abaixo o roteiro seguido por Marina na noite de sexta-feira, 24 de julho, no Teatro do Sesc Vila Mariana:


1- Fullgás

2- À Francesa

3- Virgem

4- Não me Venha mais com o Amor

5- A Parte que me Cabe

6- O Chamado

7- Call Me

8- Me Chama

9- Difícil

10- Deixe Estar

11- Charme do Mundo

12- Doce de Nós

13- Pra Começar

14- Veneno (Veleno)

15- Desencantados - com Karina Buhr

16- LEX (My Weird Fish)

17- In my Life

18- #SP Feelings


BIS:


1- Pra Sempre

2- Mesmo que Seja Eu

Com Buhr, Marina encanta em "Desencantados"



Na estreia de seu novo show, Climax, em São Paulo, Marina Lima contou com a participação de Karina Buhr para reeditar em palco o belo dueto em "Desencantados", bela parceria de ambas com Edgar Scandurra e Alex Fonseca. Em cena, Marina e Buhr (em foto do site RG Vogue) criaram clima de separação e reencontros dramáticos, aludindo a letra da bela canção.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Entrevista com Charles Möeller!



Ator, autor, diretor, figurinista, cenógrafo e pessoa querida, Charles Möeller é o entrevistado que fecha a coluna Toda Sexta tem Entrevista do mês de junho. Ao lado de Cláudio Botelho, Charles contruiu dentro do cenário do teatro musical um nome de respeito e peso. É impossível pensar no cenário do teatro musical brasileiro, como ele é hoje, sem lembrar de Charles e Cláudio.
Um rapaz com DDA e Dislexia que inventava as histórias dos livros que lia tornou-se um dos maiores diretores de teatro do mundo, vide que Stephen Sondheim é fã confesso da dupla. Charles já dirigiu espetáculos que ficaram consagrados, dentre eles os atuais Hair e Um Violinista no Telhado.É impossível para mim descrever Charles ou falar mais sobre ele. Portanto, que venha a entrevista, onde o diretor fala um pouco sobre sua carreira, sobre o cenário musical brasileiro, os medos e receios de se montar um musical e as dificuldades que enfrenta ainda hoje no Brasil! E agora com a palavra a meu mestre maior dentro do cenário do teatro musical, aquele que me fez ver as possibilidades de um trabalho bem feito! Com vocês sua realeza CHARLES MÖELLER:

Bruno Cavalcanti: Ator, diretor, autor, cenógrafo e figurinista, uma relação basicamente completa com o teatro. Como teve início esse seu fascínio pelo teatro?

Charles Möeller: Desde muito pequeno. Acho que o teatro me escolheu! Me lembro claramente quando tinha 4 anos, minha mãe me levou pra assistir no teatro uma adaptação de Quebra Nozes e entrei num surto, queria assistir todas as apresentações, só falava naquilo, e minha mãe sagazmente , me colocou em todas a peças infantis da escola, e eu era uma criança meio maluquinha pois tenho DDA e sou Disléxico, inventava personagens pra mim e tinha uma dezenas de amigos invisíveis, então durante um longo período vivia muito mais num mundo que eu criava do que na realidade... Aliás, a realidade sempre foi uma pouco distorcida pra mim! Nas salas de aula todos liam o mesmo livro, quando eu contava o que tinha lido era sempre chacota, pois tudo pra mim era muito maior e mais colorido e mais dramático, sempre fantasiei muito tudo! Me lembro claramente de quando eu dissertei sobre os 12 trabalhos de Hercules, quando tinha 9 anos de idade, minha professora de português e literatura me disse: “Charles, achei linda essa historia, muito criativa, vou te dar um dez por isso pois vi o quanto você gostou do livro, mas o Hercules já teve muito trabalho com 12, na sua dissertação tem 18 trabalhos!”, ou seja eu inventei 6 a mais. Ainda sou assim... Em leitura sou quase coautor! (risos). Gosto de viver de mentirinha. A realidade é massacrante. A arte é o subjetivo da vida

BC: Você construiu uma carreira sólida e respeitável ao lado do Cláudio Botelho no cenário do teatro musical. No entanto você também já havia construído seu nome como figurinista e cenógrafo. Como estes mundos (da cenografia, figurino e direção) se uniram para refletir no seu trabalho?

CM: Minha relação com cenário e figurino veio da minha formação de dois anos de arquitetura. Quando estava no CPT (Cia do Antunes filho) me candidatei para uma vaga de assistente de cenografia e figurino com o JC Serroni e fiquei sendo assistente dele por três anos! Sempre tive muito fascínio por tudo em teatro, essa minha carreira que foi bem solida durante anos com muito prêmios até, me deram muita base pra ser tão detalhista como diretor e saber exatamente o que pedir pro meu cenógrafo e figurinista (Rogerio Falcão e Marcelo Pies). Sei exatamente o que falar com um cenotécnico , conheço tudo de caixa preta varando, sei solucionar problemas de execução e falo de tecido e corte com costureiras sem medo! Sei que sou exigente com eles, mas sei que sou fácil também, pois sei do ofício deles e posso traçar ideias de igual pra igual! O Marcelo Pies sempre brinca: como é fácil falar com você, pois você sugere até tecido! Sou um esteta e encenador, essas coisas correm juntos na minha cabeça. Mas não tenho mais paciência pra só fazer cenário e figurino, meu trabalho hoje é dirigir!

BC: Como começou sua parceria com Cláudio Botelho?

CM: Uma coincidência cósmica, quando eu tinha 19/20 anos fazia um novela com Miguel Falabella, e um dia ele me convidou pra assistir uma ensaio da peça que ele estava dirigindo com o Ítalo Rossi e com um garoto muito talentoso que tocava violão e cantava composições próprias. Saímos do ensaio e fomos jantar e só falávamos de musical a noite inteira e já se passaram 20 anos e ainda continuamos falando.

BC: As Malvadas, o primeiro musical da dupla. Fale um pouco sobre esse projeto. Como foi ter essa recepção tão positiva da crítica e do público?

CM: Foi a primeira vez que assinamos como dupla, mas já estávamos na estrada um tempo. Foi ato de coragem e até de arrogância juvenil. Minha estreia como autor de teatro com roteiro musical e versões do Claudio, que ia de Stephen Sondheim a Sidney Magal! N’As Malvadas lançamos cantoras incríveis que estão até hoje ai... Recebemos críticas unanimes e até o premio Sharp de melhor espetáculo daquele ano, isso nos deu muito gás para continuarmos.

BC: Você e o Cláudio optaram por produzir exclusivamente musicais. Por que essa preferência pelo teatro musical e não o teatro dito “convencional”?

CM: Somos de musical, esse é nosso ofício. Acho estranho quem transita por todos os gêneros. Não saberia fazer! Sempre ia me dar a impressão de que está faltando alguma coisa! Sou atleta deste ofício.

BC: Qual o critério para que você como diretor se encante por um musical e queira montá-lo?
CM: Minha paixão é pela música do musical e pelo libreto! Tem que ter esse casamento, se a música ou a história não me tocam mutuamente, não monto.

BC: Agora falando da parte técnica. Qual a maior dificuldade em se produzir um musical no Brasil ainda hoje?

CM: Os teatros não têm infra ainda! Temos 2 ou 3 palcos capazes de suportar a estrutura de um clássico como Um Violinista no Telhado, por exemplo, no eixo Rio-SP!

BC: A Noviça Rebelde, um clássico dos clássicos. Não houve certo receio em montar um espetáculo que está já no imaginário popular?

CM: Eu não tenho receio de nada! Faço aquilo que amo e me toca. Nunca tive medo! Se a gente vive com medo a gente paralisa.

BC: Ópera do Malandro, um clássico brasileiro que veio se perdendo na memória popular. Como surgiu essa ideia de remontar este espetáculo?

CM: Queríamos fazer algo grande e de impacto popular na Praça Tiradentes, que estava às moscas e escura, abandonada mesmo, as pessoas tinham medo de ir para o centro a noite! Quando recebemos o convite de estrear um espetáculo no Teatro Carlos Gomes na época de diretores artísticos, na gestão dos teatros da prefeitura! Todos conheciam as musicas, mas tinham perdido o contato com a obra. Achei que seria um bom casamento colocar o malandro na PRAÇA (Tiradentes) outra vez e, apesar de muitos (quase todos), acharem que seria um tiro no pé ficamos com o espetáculo por três anos em cartaz, revitalizamos a praça que voltou a ser iluminada e até pipoqueiro e cambista tinham, e fizemos duas turnês pela Europa com o maior sucesso.

BC: Avenida Q e O Despertar da Primavera foram dois musicais fortes de uma ótima aceitação do público, mas com temas polêmicos e ainda hoje um tanto controversos. Como foi trabalhar com estes dois espetáculos? Houve algum receio de montá-los?

CM: Nem um pouco, eu como artista tenho o dever e direito de quebrar os tabus! Com o Hair também foi assim e esses espetáculos me trouxeram a plateia jovem.

BC: 7 – O Musical, o espetáculo mais autoral da dupla e um dos meus favoritos. Fale um pouco desse espetáculo. As experiências, proporções e a possibilidade de ele ganhar as telas de cinema.

CM: O 7 é nosso musical fetiche , e só tivemos alegrias com ele, é o musical que menos me deu dinheiro, mas é o que me deu mais orgulho, por ser uma criação total, ver minha historia num palco é se ver, se expor, ver sua voz mais interior, era deslumbrante, tão soturno , mágico, num Rio de Janeiro nevando, com feitiços e sortilégios, com músicas compostas pro meu imaginário, não tem preço! É o espetáculo mais premiado da minha carreira e temos varias propostas dele ir parar no cinema! E vamos filma-lo em algum momento

BC: E 7 parece que ganhará uma cria. Verônica 13. Você pode falar sobre esse espetáculo? Pode me dar uma exclusiva?

CM: O 7 é a primeira parte da trilogia. Veronica ou 13, não é uma continuação é mais é uma cria com o mesmo universo Rodriguiniano que me fascina. Se passa nos anos 50 num Rio de Janeiro nublado e sombrio. Laura na véspera do seu casamento com Pedro se descobre apaixonada pelo irmão dele, Frederico, e envolvida num plano de assassinato, é uma historia de twists e reviravoltas envolvendo, maldições, mortes, vinganças, juras de amor, fantasmas, e um crime nunca explicado na família! Um jogo de amor e azar, por isso a referencia do número 13, uma ciranda de paixões: Pedro que ama Laura, que ama Frederico que ama Verônica que ama Pedro, Frederico e Laura que é amada por Leticia... E assim vai!

BC: Ada Chaseliov e Ivana Domenico são as duas atrizes que mais protagonizaram espetáculos da dupla “Möeller e Botelho”. Qual sua relação com ambas?

CM: Duas amadas, queridas, talentosas! Ada já era minha amiga antes de eu me tornar diretor e é até hoje uma irmã! Mas temos outros nomes que sempre trabalho, como Sabrina Korgut, Gottsha, Alessandra Verney, Kakau Gomes, Renata Ricci, Alessandra Maestrini, Kiara Sasso, Dudu Sandrone, Renato Rabello, Eduardo Galvão, agora a tão jovem Malu Rodrigues, que já esta na sua quarta peça comigo, e tantas outras e outros! Sou como um cachorro fiel, quando gosto, quero ter perto! Funciona como talismã, e ter pessoas que já trabalharam comigo perto é muito bom, pois eles educam os que estão entrando!

BC: E o Charles como público? Qual seu musical favorito?

CM: Sou como o premio Tony, todo ano elejo os que mais gostei, mas nos últimos anos ninguém ainda tirou o brilho de Billy Elliot!

BC: E o que você gosta de ler, ouvir, assistir?

CM: Leio coisas bem variadas, no momento estou lendo um livro lindo do Philp Roth chamado A Humilhação, mas quando estou no processo de trabalho procuro mergulhar a fundo no mundo que estou tratando! No Hair fiquei emergido em literatura Beatnik , ouvindo rock psicodélico, mantras orientas, fui fazer Yoga, tudo pra ter esse olhar pra peça, gosto assim, gosto quando a peça transforma meu dia a dia, inclusive fisicamente! Para o Violinista ganhei um livro de contos do Historiador, Michel Guermam, sobre perolas da literatura Judaica e li praticamente todo Sholem Aleicheim! Para As Bruxas de Eastwick já estou lendo The Witches of Eastwick, de John Updike, o livro que deu origem ao filme e ao musical e The Windows of Eastwick, uma espécie de conclusão que ele escreveu 24 anos depois! Escutar vou te revelar um segredo em primeira mão: quando não estou trabalhando não escuto musica nenhuma, descanso meus ouvidos, detesto musica até no carro, em casa nunca toca nada, pois passo o às vezes 12 horas por dia escutando musica quando trabalho, e trabalho emendando uma musical no outro nos últimos dez anos... Se estou em casa e não estou estudando ou trabalhando é o silêncio que reina!

BC: Charles Möeller como ator. Você já fez algumas novelas além de ter atuado em outras peças. O Charles ator pode voltar a dar as caras nos palcos ou nas telas?

CM: Às vezes tenho muita vontade, tenho até alguns planos, mas não sou daquele que meche em time que esta ganhando! Mas nunca digo nunca!

BC: Gypsy, o musical perfeito. Fale um pouco da experiência de montar um dos musicais mais difíceis da Broadway (que, não por coincidência, é o meu favorito!).

CM: Eu amo a peça! Demoramos 3 anos pra levantar dinheiro pra produção, era o papel certo para Totia (Meirelles – que viveu Mamma Rose) e para Adriana (Garambone – que viveu Gypsy Rose Lee), e o fantasma de ser o musical mais difícil e perfeito de todos os tempos me excitava muito, pois ele é quase um roteiro de cinema , um plano sequência que dura quase duas décadas! Amei cada segundo, foi um sucesso incrível e colocou a Totia no patamar de primeira atriz de musical! Lançou o André Torquarto! Mas falavam a mesma coisa do Violinista também, e olha ele aí com Zé Mayer arrebentando com todas as críticas dizendo ser o melhor trabalho da minha carreira e da carreira dele: Não tenho medo desses mitos do maior, ou mais difícil ou mais perfeito! Quero sempre que seja o mais emocionante

BC: E a emoção de ter Sondheim em sua plateia...

CM: É um dia único e com certeza, mudou a minha trajetória, e passei para um outro lugar na minha carreira, ele estava com Sir Cameron Mackentosh , o maior produtor de musicais do mundo, e fez questão de ir no intervalo falar com elenco, e até hoje escreve a mão bilhetes muito amáveis nas nossas estreias, temos essa honra e isso mudou o nosso rumo! Passamos pelo crivo de Deus, tivemos críticas incríveis na (revista) Sondheim Review, abriu portas dos escritórios de direitos internacionais, enfim foi o começo de uma nova era! Foi uma bênção do maior de todos!

BC: Para encerrar me diga: Charles Möeller por Charles Möeller. E uma música, uma citação, um poema, frase, qualquer coisa, para fechar.

CM: Falo sempre esse poema pra todos os meus elencos e acho que é que permeia minha vida e meu trabalho de diretor:

O olho do homem é feito de modo que se lhe vê por ele a virtude. A nossa pupila diz que quantidade de homens há dentro de nós. Afirmamo-nos pela luz que fica debaixo da sobrancelha. As pequenas consciências piscam o olho, as grandes lançam raios. Se não há nada que brilhe debaixo da pálpebra, é que não há nada que pense no cérebro, é que não há nada que ame no coração.

Victor Hugo.

Os Reis dos Musicais



Quando se ouve falar em Charles Möeller e Cláudio Botelho logo se pensa em musical, mas nõ apenas em musical, logo se pensa em qualidade. Não é à toa que a dupla recebeu o título de "Os Reis dos Musicais". A qualidade do trabalho destes dois diretores ultrapassou o bom, o correto e o ótimo, chegando ao patamar do sublime. Com mais de 20 anos de carreira os dois nunca erraram em cena. Seu primeiro musical, As Malvadas, foi um sucesso arrebatador e daí pra frente apenas grandes sucessos passaram pelo crivo da dupla. Não há possibilidade hoje de olhar um musical que leve a assinatura de Charles e Cláudio e pensar: que musical péssimo! A dupla criou apenas grandes sucessos e o último sucesso estrondoso está em cartz no teatro OI Casa Grande no Rio de Janeiro, com casa lotada e crítica unânime: Um Violinista no Telhado. Mas antes deste espetáculos já passaram por aqui: A Noviça Rebelde, Hair, Sweet Charity, Avenida Q, Gypsy, Ópera do Malandro e os autorais 7 - O Musical e Cole Porter - Ele Nunca Disse que me Amava (além claro do belíssimo Cristal Bacharach), enfim, Charles e Cláudio podem não ser infalíveis, mas até hoje não falharam. Este texto nasce d aminha necessidade de expressar não apenas minha admiração como meu orgulho por ter no Brasil uma dupla de diretores que tenha revitalizado com tamanha maestria o cenário do teatro musical. Stephen Sondheim deu seu aval para a dupla e, desde então, não há quem não queira que seu espetáculo tenha a assinatura dos "meninos" (como são chamados carinhosamente dentro do cenário musical). Agora estão dirigindo o espetáculo As Bruxas de Eastwick em parceria com a produtora Time 4 Fun, que trouxe ao Brasil espetáculos como Chicago, A Bela e a Fera, Cats e trará no ano que vem a comédia musical A Família Addams. Enfim, este texto curto serve também para duas outras coisas: expressar meu desejo de, em breve, trabalhar com a dupla, e apresentar meu entrevistado que fecha a coluna Toda Sexta tem Entrevista do mês de junho. O diretor, ator, autor, figurinista, cenógrafo e querido: CHARLES MÖELLER!

sábado, 18 de junho de 2011

"Um Violinista" chega a São Paulo em setembro



Cumprindo concorrida (e vitoriosa) temporada no Rio de Janeiro, no Teatro OI Casa Grande, o musical Um Violinista no Telhado da dupla de ouro Charles Möeller e Cláudio Botelho chegará a São Paulo no mês de setembro. O espetáculo tem no elenco, encabeçado por Soraya Ravenle e José Mayer, nomes como Marya Bravo, Ada Chaseliov, Malu Rodrigues e Júlia Bernart dentre (muitos) outros. A temporada carioca está cotada para ficar em cartaz até início de setembro, quando aporta em SP.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Entrevista com Simone Gutierrez!




Cantora, atriz e bailarina, Simone Gutierrez despontou para o grande público em 2009 quando protagonizou o musical Hairspray, com direção de Miguel Falabella. Simone interpretou Tracy Turnblad ao lado de Edson Celulari, Arlete Salles, Danielle Winits, Jonatas Faro e Heloísa de Palma. Simone estreou nas novelas em 2010 em Passione a convite de Silvio de Abreu, além de protagonizar um espetáculo onde, além de cantar e atuar, também produziu, Ai-Pod. Neste ano de 2011 foi convidada por José Possi Neto para integrar o elenco do musical New York, New York. Simone é uma bailarina de mão cheia, além de ser um dos grandes nomes no cenário do teatro musical brasileiro atual. A atriz me concedeu uma entrevista onde falou basicamente de carreira e de seus gostos pessoais, além do desejo de investir na carreira de cantora, gravando um Cd. Vejam abaixo a entrevista na íntegra.

Bruno Cavalcanti: Você surgi para uma grande público após protagonizar o musical Hairspray em 2009 e logo após surgiu para um público maior ao participar da novela Passione. Como é sua relação com a fama?

Simone Gutierrez: Eu lido muito bem com isso, porque acho que o que vale é o reconhecimento de um bom trabalho. É muito legal quando alguém te aborda e diz , “poxa adorei seu trabalho”, pra mim é isso que vale.

BC: Você e Miguel Falabella trabalharam juntos no Hairspray, mas já se conheciam antes mesmo do espetáculo. Como é sua relação com Miguel?

SG: Miguel é um amigo que eu quero pra vida toda. Se ele não tivesse me escolhido pra fazer a Tracy, talvez hoje nem estivesse aqui dando essa entrevista (risos)! Mas não só por isso, ele também é muito querido e me ensinou muito.

BC: Como surgiu o convite para participar de Passione, com uma personagem tão divertida quanto foi a Lurdinha?

SG: Foi muito legal, o Silvio de Abreu foi me assistir no Hairspray quando eu estava em cartaz no Rio e aí me convidou. Quase enfartei! (risos)

BC: Ai-Pod foi um espetáculo divertidíssimo, mas que teve pouco tempo de duração. Você pretende trazê-lo de volta?

SG: Não vejo a hora de voltar, esse é meu primeiro projeto como produtora, junto com meu amigo Eduardo Berton e minhas queridas Célia Forte e Selma Morente da Morente Forte Produções. Só estamos correndo atrás de alguns detalhes de leis e patrocínios pra voltar a todo vapor.

BC: Ainda sobre Ai-Pod, como surgiu a ideia de criar um espetáculo com tamanha interatividade musical?

SG: A ideia embrionária era fazer um show com uma banda ao vivo, que mostrasse nossas qualidades musicais e vocais, mas que ao mesmo tempo fosse engraçado. Seria um stand-up musical. Isso, no nosso entendimento já era uma tentativa de inovação, já que habitualmente não vemos stand-ups acompanhados de bandas. Também queríamos uma "amarração dramatúrgica", calcada no humor. Aí foi só começar a produzir.

BC: Além do teatro musical e da televisão, ainda há uma carreira que você pretenda dar mais atenção? Com ao de cantora, por exemplo?

SG: Se houver algum convite de alguma gravadora com certeza vou me dedicar e amar.

BC: Como surgiu o convite para participar de New York, New York?

SG: Me chamaram para um teste e o José Possi Neto que era o diretor e já conhecia meu trabalho, adorou e resolveu escrever um papel pra mim...chique né? (risos).

BC: Simone Gutierrez como público: quais suas músicas, livros, filmes, diretores, atores favoritos, enfim... O que satisfaz a Simone Gutierrez enquanto público?

SG: Difícil escolher. Gosto de tudo que me inspira e instiga. Quando não estou trabalhando, procuro assistir tudo o que dá, ouvir tudo o que posso, ler o que me interessa , porque acho que isso faz parte do meu crescimento como artista.

BC: Em seus trabalhos há algum que você olhe pra trás e pense: este é meu xodó, meu favorito. E há algum para o qual você olhe e pense: se arrependimento matasse...

SG: Ah... com certeza Hairspray é meu xodó e vai ficar marcado pra sempre na minha vida. Arrependimento não tem nenhum.

BC: Como são os fãs de Simone Gutierrez? São dos tipos histéricos que gritam por você ou são daqueles que você poderia parar uma bela tarde para tomar um chopp?

SG: Amo meus fãs, eles são muito carinhosos. Acho que nenhum artista seria completo se não tivesse quem admirasse o seu trabalho. Mas infelizmente não bebo... Pode ser um cappuccino? (risos).

BC: Há algum trabalho dentro ou fora da TV que você queira muito fazer? Um papel que seja seu sonho de consumo?

SG: Se o musical, Wicked viesse para o Brasil adoraria fazer a Elphaba.

BC: E a Simone cantora? Um CD pode rolar por aí?

SG: Cadê o convite? (risos)

BC: Me diga uma frase, uma música, uma citação, qualquer coisa que nos diga basicamente quem é Simone Gutierrez.

SG: “Lamentar aquilo que não temos, é desperdiçar aquilo que já possuímos.”

BC: Para encerrar: Simone Gutierrez por Simone Gutierrez.

SG: Determinação.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Veja o elenco de "As Bruxas de Eastwick"


Musical que estreou em 2000 na West End (Londres), As Bruxas de Eastwickchega ao Brasil com produção da Time 4 Fun e direção da dupla Charles Möeller e Cláudio Botelho. A estreia está agendada para o dia 13 de agosto no Teatro Bradesco, em São Paulo, e o elenco já foi divulgado. Vejam abaixo alguns dos nomes que irão compor o elenco:

Eduardo Galvão (Darryl): O ator iniciou parceria com a dupla Möeller & Botelho quando participou do musical Gloriosa com Marília Pêra. Essa parceria foi reforçada por sua participação em Gypsy em 2010, quando viveu Herbie, fazendo par com Totia Meirelles que viveu Mamma Rose.

Renata Ricci (Sukie): A atriz já tem uma história dentro dos musicais. Ao lado da dupla Möeller e Botelho ela já esteve no elenco de espetáculos como Sweet Charity, Avenida Q e viveu a encantadora Junne no musical Gypsym 2010.

Kakau Gomes (Jane): Outro nome de peso, Kakau já esteve em diversos musicais, dentre eles Jekyll & Hyde - O Médico e o Monstro, Godspell, Rock Horror Show dentre outros. Com Charles e Cláudio Kakau esteve em musicais como Cole Porter - Ele Nunca Disse que me Amava, Tudo é Jazz, Beatles num Céu de Diamantes e Uma Noite com Cole Porter.

Maria Clara Gueiros (Alexandra): É o primeiro musical da atriz com a dupla Möeller e Botelho. Mais conhecida por seu trabalho na TV, Maria Clara também já protagonizou musicais como Tango, Bolero e Cha Cha Cha, além de ser bailarina profissional há 27 anos e estar prestes a produzir, entre os anos de 2012 e 2013, um musical, de direitos adquiridos em Londres.

Fafy Siqueira (Felicia): A atriz multifacetada sempre esteve envolvida em projetos musicais, mas esta é a primeira vez que trabalha ao lado da dupla Möeller & Botelho.

Renato Rabelo (Clyde): O ator também não é nenhum entranho no ninho, já tendo estado no elenco de musicais como Rock Horror Show, Marília Pêra canta Carmen Miranda, Garota Glamour, Victor ou Victória? dentre outros. O ator participou de projetos da dupla Möeller e Botelho, dentre eles Cristal Bacharach, Ópera do Malandro, Avenida Q dentre outros.

André Torquatto (Michael): O ator fez seu desponte nos grandes musicais em 2010, quando viveu Tulsa no musical Gypsy, ao lado de Totia Meirelles, Renata Ricci, Eduardo Galvão e Adriana Garambone. Este é seu segundo projeto com Charles Möeller e Cláudio Botelho.

Clara Verdier (Jennifer): A atriz está no elenco de seu segundo musical com a dupla Möeller e Botelho. Antes ela havia composto o elenco de A Noviça Rebelde.

Ben Ludmer (Fidel): O humorista trabalha pela primeira vez com a dupla Möeller e Botelho.

Ivana Domenico (Felicia alternante): Uma das atrizes mais conceituadas do teatro musical, Ivana é a atriz que mais fez musicais da dupla Möeller e Botelho, tendo estado no elenco de projetos como As Malvadas, Cristal Bacharach, Ópera do Malandro, Lado a Lado com Sondheim, 7 - O Musical, Cole Porter - Ele Nunca Disse que me Amava dentre outros.

Dentre outros nomes. O espetáculo estreia dia 13 de agosto de 2011 no Teatro Bradesco, em São Paulo, onde hoje está em cartaz New York, New York.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Pterodátilos: a extinção da alma na tragicomédia


Cumprindo concorrida temporada no Teatro FAAP, a peça Pterodátilos tem sido requisitada pelo público muito mais pela presença de Marco Nanini no elenco do que pela história em si. O delicioso texto do norte americano Nicky Silver fora deixado em segundo plano pelos desavisados que entravam na FAAP em busca de encontrar em Nanini uma espécie de personificação de sua personagem Lineu, do seriado A Grande Família. Talvez essa busca pela personagem televisiva tenha sido uma das frustrações de grande parte do público ao sair da FAAP comentando “que peça estranha”, “não entendi nada”, “esperava rir mais”, “o Lineu estava tão estranho”. Quem procurar por Lineu não encontrará. Quem procurar por Nanini também não o encontrará. Apenas o que se vê em Pterodátilos é uma tragicomédia sobre uma família de alta classe que se vê entrando em extinção com a volta do primogênito a casa. O pai, presidente de um banco, a filha prestes a casar e totalmente desligada de sua realidade, a mãe alcoólatra e sem nenhuma noção de seus atos e o então noivo da filha, submisso e perdido em seus desejos. Nada suporta a volta do filho homossexual contaminado pelo vírus do HIV que decide escavar as terras da casa em busca de fósseis de dinossauros e acaba por encontrar um pterodátilo. Nada na peça faz sentido a principio e aí está o grande trunfo do texto de Nicky Silver. A história em si não deveria ter sentido, tanto quanto a convivência daquela família não tem. Nada na família está de pé, nada faz sentido, não há ali linha que separe a realidade da insanidade emocional, todas as personagens estão entregues a suas emoções mais sombrias, e é exatamente aí que os atores entram em prova e, como era de se esperar, passam com louvor. Fellipe Abib interpreta Tom, noivo da filha mais nova da família. O ator construiu em sua personagem a densidade e a comicidade exatas a ponto de cativar o público logo quando entra vestida de empregada em cena, a pedido de sua então futura sogra. Tudo muda quando Tom se apaixona por Todd, filho mais velho da casa e homossexual portador do vírus do HIV e interpretado por Álamo Facó num misto de tristeza, paixão e sensualidade. A dupla protagoniza momentos de terna tensão sexual que convencem e emocionam. Emma, a filha mais nova interpretada por Marco Nanini é também um grande achado, talvez a melhor personagem no texto de Nicky. Nanini criou uma garota reprimida e regida por suas sinas, medos e manias que, alcoólatra e grávida vive em discussão com a mãe tentando provar sua existência. Nanini mostra tamanha maestria em cena que realmente chegamos a acreditar que há uma atriz interpretando aquele papel, não apenas um homem (tra)vestido de mulher. Nanini também dá vida ao patriarca da família, Artur, presidente de um banco que tenta a todo custo levar sua família nas costas, tentando aceitar as escolhas do filho, reprimindo seus desejos de abusar de sua filha e tentando aturar sua esposa. Nanini funciona melhor como Emma, mas também convence na pele do banqueiro que, mais tarde, perde o cargo da presidência e entra num estado de letargia e depressão contínuas, tentando inclusive assassinar seu filho Todd num ato de desespero para suprir seus desejos, acaba expulso pela esposa, Grace, e aí está o grande destaque da peça. Mariana Lima interpreta a dona de casa alcoólatra e compulsiva por compras, Grace. A atriz mostra estar em sua melhor forma em passando de momentos cômicos a trágicos num piscar de olhos. O amor platônico que alimenta por seu filho Todd faz com que a notícia de sua doença torne-se apenas mais uma ocasião para festa, após o casamento de sua irmã. “Você quer caixão aberto?” pergunta com euforia Grace a seu filho, e Mariana explora todas as nuances e riquezas desta personagem. O verdadeiro destaque da peça é Mariana.

O cenário é elemento a parte, que funciona a favor da peça. A princípio simples (um chão de madeira erguido por uma plataforma) vai se transformando em ponto essencial para o espetáculo, visto que a medida em que a família desmorona (seja com a morte de Grace e seu filho – ela então grávida – seja pela morte de Tom, seja pela partida de Artur), o chão vai sendo completamente destruído, até que sobrem apenas resquícios. Com a morte de Grace (numa cena impactante dela sendo servida pelo filho com conhaque e já dando seus últimos suspiros), a peça é encerrada com Todd e seu discurso politicamente irreconhecível (correto ou não, isso já não importa). É essa a graça do texto de Nicky Silver: a falta de graça.

Pterodátilos não é uma peça fácil, muito antes pelo contrário, é uma peça de difícil acesso e digestão, mas é uma obra que merece a atenção do público, desde que este esteja preparado para ver aquilo que talvez queiram esquecer.

'Book of Mormon' é destaque no Tony 2011


Musical da dupla Trey Parker e Matt Stone (autores da famosa série South Park), Book of Mormon foi o grande vitorioso da noite de ontem (12 de julho) na premiação do Tony Awards, em Nova Ioque. A sátira musical abocanhou nada menos que 9 estatuetas do Tony, incluindo a de melhor musical. Quem também não se saiu mal foi Anything Goesque levou 3 estatuetas, incluindo de melhor coreografia e de melhor remake musical. Uma curiosidade (ma snão uma surpresa) foi a vitória de Priscilla - Queen of the Desert por melhor figurino. O musical jamais ganhou um prêmio de melhor musical, mas desde que foi montado pela primeira vez na Austrália tem sempre abocanhado prêmios de melhor figurino, e em sua estreia na Broadway não foi diferente. Vale lembrar que o espetáculo estreia no Brasil em 2012. Veja abaixo a lista dos vencedores do Tony Awards 2011:

Melhor Peça: War Horse

Melhor Musical: Book of Mormon

Melhor Remake de Peça: The Normal Heart

Melhor Remake de Musical: Anything Goes

Melhor Encenação em Peça: Marianne Elliot e Tom Morris - War Horse

Melhor Encenação em Musical: Casey Nicholaw e Trey Parker - Book of Mormon

Melhor Atriz em Peça: Frances McDormand - Good People

Melhor Atriz em Musical: Sutton Foster - Anything Goes

Melhor Ator em Peça: Mark Rylance - Jerusalem

Melhor Ator em Musical: Norbert Leo Butz - Catch me if You Can

Melhor Ator Coadjuvante em Peça: John Benjamin Hickey - The Normal Heart

Melhor Ator Coadjuvante em Musical: John Larroquette - How to Succeed in Business

Melhor Atriz Coadjuvante em Peça: Ellen Barkin - The Normal Heart

Melhor Atriz Coadjuvante em Musical: Nikki M. James - Book of Mormon

Melhor Libretto: Book of Mormon - Trey Parker e Matt Stone

Melhor Figurino em Peça: Importance of Being Earnest

Melhor Figurino em Musical: Priscilla - Quen of the Desert

Melhor Cenografia em Peça: Wars Horse

Melhor Cenografia em Musical: Book of Mormon

Melhor Iluminação em Peça: Wars Horse

Melhor Iluminação em Musical: Book of Mormon

Melhor Coreografia: Anything Goes - Kathleen Marshall

Melhor Trilha: Book of Mormon

Melhor Orquestração: Book of Mormon

Melhor Desenho de Som em Musical: Book of Mormon

Melhor Desenho de Som em Peça: Wars Horse

domingo, 12 de junho de 2011

Noel Rosa: a dignidade do samba nos palcos


“Uma delícia de musical, tô com vontade de sambar!” dizia uma moça na plateia ao fim do espetáculo Noel Rosa: O Poeta, o Músico, Cronista de uma Época. E realmente, a vontade parecia ecoar por todo o teatro. A biografia musical do “poeta da Vila” cumpre curta temporada no Teatro Brigadeiro, em São Paulo. Com texto e direção de Cybele Gianni o espetáculo conta essencialmente a vida de Noel Rosa baseada em suas canções. São ao todo 42 canções passando por clássicos como “Com que Roupa?”, “Feitio de Oração”, “Palpite Infeliz” e “Fita Amarela” até temas mais obscuros da obra do autor, como “Quando o Samba Acabou” e “Seja Breve”.

O elenco de 13 atores mais os 6 músicos que não deixam o palco em nenhum momento compõem um jogo cênico bonito, principalmente ao interpretarem (bem) temas de Noel. Nomes como Francisco Alves, Mário Lago, Aracy de Almeida, Marília Baptista, Ismael Silva, Wilson Baptista, Orestes Barbosa e Braguinha foram representados com dignidade em cena. O texto de Cybele Gianni procurava entrelaçar fatos da vida de Noel com suas canções, usando de um humor tipicamente malandro e, de fato, gostoso de se ouvir. O elenco defendeu a obra de Noel com profissionalismo, nenhum dos atores cantava mal, destaque inclusive para Glau Gurgel que deu vida ao próprio “poeta da Vila”. O ator transformou Noel numa personagem, criando um malandro facilmente adorável, cafajeste, porém adorável. Destaque também para Áurea Giovanni, que deu vida a Ceci, grande amor da vida de Noel; e Danilo Andrade, que se destacou ao viver Mário Lago e Francisco Alves. Cybele Gianni também apareceu muito bem em cena, mesmo tendo altos e baixos. Quando interpretava a mãe preocupada e zelosa de Noel a atriz conseguia momentos de boa emoção, o que já não era facilmente perceptível em sua interpretação de, por exemplo, Julinha, a cantora de cabaré decadente. Cybele não tem uma voz talhada para o canto. Mas se houve um pecado em Noel Rosa foi o cenário. A perfeição do botequim criado para abrigar os 6 músicos do Grupo JB Samba não refletia, por exemplo, nos cenários que construíram um cabaré e um pequeno apartamento onde se instalava Ceci. Os cenários se cobriam e chegava a ser impossível enxergar os atores que se sentavam no grande sofá por trás do cenário do cabaré (que vale ressaltar, continha a mais bela iluminação do espetáculo). Mas apenas um detalhe facilmente corrigível e insignificante perto da dignidade da retratação da vida de um dos poetas mais importantes da história do samba.

Noel Rosa: O Poeta, o Músico, Cronista de uma Época é um espetáculo dignamente delicioso, mostrando a melhor xepa do verdadeiro samba. Uma delícia de Noel Rosa.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Entrevista com Renata Ricci!


Atriz, cantora e bailarina, Renata Ricci é a minha entrevistada desta semana. Renata é um dos nomes mais requisitados dentro do cenário do teatro musical no Brasil. Já esteve em espetáculos do porte de Sweet Charity e o clássico Gypsy, ambos da dupla Charles Möeller e Cláudio Botelho. Renata também já fez parte do elenco de novelas como Amigas e Rivais (SBT), Revelação (SBT) e Páginas da Vida (Globo), além de cmapanhas publicitárias e muito mais. A atriz se define como "artista" que faz de tudo, teatro musical, televisão, o teatro dito "habitual", cmapanhas e tudo aquilo que lhe dê prazer. Cinfélia assumida, revela-se uma amante da sétima arte e de tudo o que a compõe: desde os blockbusters atéos filmes mais clássicos. Renata também nos mostra a possibilidade de aflorar com seu lado cantora. Numa conversa via bastante descontraída tratamos especificamente de trabalho e preferências. Em agosto ela estreará em São Paulo, no Teatro Bradesco, o musical As Bruxas de Eastwick ao lado de Kakau Gomes, Maria Clara Gueiros, Fafy Siqueira, Eduardo Galvão e André Torquatto (seus dois companheiros em Gypsy). Abaixo a entrevista completa:

Bruno Cavalcanti: Você esteve em diversos musicais de grande importância, e um deles foi Sweet Charity onde você ganhou destaque. Dali pra cá ainda houve outros trabalhos de sucesso como Avenida Q e Gypsy. Como foi esse crescimento gradual na sua carreira?


Renata Ricci: Sweet Charity foi meu primeiro musical profissional, e fiquei muito feliz de já ter feito uma personagem bacana, logo assim, de cara! De lá pra cá, continuei com minhas aulas, meu empenho, e, a cada novo trabalho, sinto realmente este crescimento gradual. Vejo isso como uma coisa muito boa, resultado de dedicação à minha carreira. É bacana sentir que, a cada novo trabalho, coloca mais um tijolo, mais uma estrutura em algo maior, algo que representa você como artista que é o trabalho de uma vida inteira!


BC: Você não é apenas uma atriz de teatro, chegou a fazer televisão também. São duas linguagens diferentes, mas alguma delas é sua favorita?


RR: Sim, são linguagens diferentes, mas independente da linguagem usada, do meio utilizado, da técnica especifica... Antes de tudo isso vem o ator. O ator, no meu ponto de vista, tem de estar sempre o mais preparado possível pra acessar as mais variadas ferramentas que ele possui pra cada trabalho. Eu não tenho preconceito nenhum, seja com teatro tradicional, televisão, cinema, teatro de rua, sei lá quais outras denominações que podem existir. Gosto de atuar seja em qual meio for, gosto de contar uma boa história! Não tenho uma linguagem favorita, mas sinto muito prazer fazendo teatro musical e cinema, mas é uma coisa que digo hoje, amanhã não sei qual será este barato. O que curto em televisão é esta novidade, esta coisa de todo dia ser literalmente diferente, desafiador. Você tem de estar numa maneira muito intuitiva, pois não se tem muito tempo de preparação, diferente do teatro e do cinema, tudo tem sua beleza! O grande lance do ator é estar atento e pronto para o que vier.


BC: A Renata Ricci cantora pode surgir num trabalho solo ou ela é apenas mais uma vertente da Renata Ricci atriz (e bailarina)?


RR: Não sei! Hipoteticamente? Com certeza. Mas admito que não seja algo que eu corra atrás com muito afinco. Tenho minhas composições, minhas pesquisas, mas vou fazendo no meu tempo, sem pensar se isso um dia poderá vir a ser ou não algo de conhecimento do grande público! Tenho uma ou outra coisa minha no myspace. Acho bacana mostrar pra quem quiser ouvir, e a tecnologia facilitou tudo isso.


BC: Em Gypsy você interpretou a encantadora June que é uma personagem essencial na história. Como foi lidar com a responsabilidade de, primeiro, interpretar uma personagem que de fato existiu, segundo, interpretar uma personagem de tamanha importância?


RR: Eu não pensei muito nisso não. Fiquei feliz com o papel, honrada de representar alguém que ainda estava vivo (a June real veio a falecer umas 2 semanas antes da nossa estréia). Acho que a sensação seria mais de honrada que o peso da responsabilidade sabe? Dei o meu melhor, mas talvez pelo lance de ter sido gradual até chegar numa personagem como a June, me senti no lugar certo. Nem mais nem menos do que eu poderia naquele momento.


BC: A Renata Ricci é um nome conhecido do grande público? Você participou de novelas como Páginas da Vida (Rede Globo), Amigas e Rivais (SBT) e Revelação (SBT). Você acha que isso impulsionou sua carreira de alguma forma, ou você ainda é mais conhecida pelos freqüentadores do teatro?


RR: A Renata Ricci? Ou seja, eu? (risos). É engraçado que a TV é muito rápida na divulgação da nossa imagem e também do nosso trabalho. A minha carreira é um conjunto de fatores, e dentre eles faz parte a TV, o teatro musical, o teatro tradicional, a dança, etc. Penso assim... Gosto de sentir meu trabalho reconhecido sim. E muita gente ainda me para na rua ou me escreve recadinhos online lembrando das novelas, ou de peças que viram há anos atrás... E é este o retorno que tenho!


BC: Você participou de Sweet Charity, Avenida Q e Gypsy, três musicais que levam a grife da dupla Charles Möeller e Cláudio Botelho. Como é sua relação com eles?


RR: Primeiro de respeito e admiração porque os caras estão nesta labuta há muito tempo! Muito antes de existir este glamour em torno do teatro musical eles já faziam isso porque amam mesmo... São amadores neste sentido, de realmente fazer o que amam. E com certeza, por este motivo, o clima de trabalho com eles é sempre maravilhoso, de respeito mútuo, de troca... Me sinto feliz de fazer parte de um grupo de atores que trabalha com a dupla! Não só com os dois, mas toda a equipe, que se mantém relativamente à mesma. É um prazer chegar lá e fazer minha parte e ver todos muito envolvidos no que fazem. Sem contar que o Charles é um doce de pessoa, um paizão, e o Cláudio um dos humores mais afiados e inteligentes que conheci. Pessoas que a gente tem prazer de conhecer literalmente!


BC: E a Renata Ricci como público? Quais suas preferências? O que gosta de ouvir, cantar, ler, assistir? Prefere teatro ou cinema ou televisão?


RR: Sou louca por cinema desde criancinha mesmo. Qualquer brecha, onde está a Renata? No escurinho da primeira sala que cruzar seu caminho (risos). Gosto dos clássicos, dos blockbusters, dos alternativos, dos chatos, dos engraçados... Gosto de cinema e ponto! Mas também vou muito ao teatro ver os amigos. É bom saber o que está sendo feito, dito, escrito pelos nossos contemporâneos. Meu dia geralmente é entre aulas, com o Ipod na orelha, cantarolando de tudo. De Noel Rosa a David Bowie, passando por Sinatra e Corinne Bailey Rae.


BC: E seu musical favorito?


RR: Um só? Difícil... Amo Cabaret, Wicked e RENT.


BC: Há algum trabalho que você olhe para trás e pense: deste eu tenho mais orgulho. E algum que você olhe e pense: se arrependimento matasse...?


RR: Me orgulho e muito de Avenida Q... Até hoje, aonde eu vou, sejam pessoa do meio ou não, rola o comentário: que peça, que elenco especial, que conjunto... E foi isso mesmo: um conjunto certo na hora certa! Foi tudo muito encaixadinho, meant to be sabe? Agora o outro lado, sinceramente não... Pode parecer piegas, mas sempre me divirto e aprendo fazendo algo. Posso não querer repetir, mas daí a dizer que me arrependi? Não!


BC: Há ainda alguma peça, novela, alguma personagem que você queira fazer e ainda não teve oportunidade?


RR: Muitos, mas já deu pra ver que sou uma pessoa plural neste sentido... Tantos que nem dá pra nomear (risos).


BC: A Renata Ricci é fã? De quem?


RR: Fã? Não sei, mas admiro muita gente. Nunca tive esta coisa, nem quando adolescente, de ter cartaz de alguém, de olhar como se a pessoa fizesse parte de um panteão. Mas admiro muito Paulo Autran, Chaplin, Meryl Streep, Wagner Moura, Liz Taylor e tantos outros.


BC: Como são seus fãs? São daqueles que você pode parar para tomar um chopp numa tarde qualquer ou não há esse tipo de interação?


RR: São de todos os tipos! Tem os que se tornaram amigos, tem os que me perseguiam até de maneira doentia, tem os tímidos, os engraçados... Tem de tudo! Tirando o stalker, tenho uma relação bacana com todos! É um carinho muito bom, que eu gosto de receber! Às vezes a gente está cansada ou triste com algo, mas me esforço pra sempre dar atenção, pois sei que pra pessoa aquele é um momento único.


BC: À lá Gabi me diga: Uma frase, uma música, uma citação, qualquer coisa que você acha que defina o básico de você (ou que você goste, enfim)...


RR: Todo dia é dia, de usar roupa bonita, de amar, de dar o seu melhor! Amar, seja o que for, é o que nos salva!


BC: E para encerrar: Renata Ricci por Renata Ricci.


RR: Pessoa de número 11, nascida num dia também 11 em uma bela e louca família. Que é mais quieta e sozinha do que parece, com um coração enorme e que às vezes suspeita que nasceu na era errada!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Chegamos enfim ao Clímax...


“Keep walking!” grita Marina Lima numa das faixas do disco que lança nesta semana, Climax. O 19º álbum de sua carreira chega às lojas apenas dia 10, mas já vazou na internet uma semana antes. Se alguém me perguntar: você baixou? Eu responderei: baixei! Se alguém me perguntar: por quê? Eu responderei: porque não? Este seria um tema do qual eu poderia falar, falar e falar (escrever, escrever e escrever), mas fugiria completamente à minha ideia inicial: o Climax. Keep walking!

Digo que sou um fã tardio da obra de Marina. Mesmo já conhecendo hits como “Fullgás”, “Charme do Mundo” e a inevitável “Uma Noite e ½” eu ainda não tinha noção da dimensão do trabalho desta compositora que, a meu ver, é uma das mais importantes do pop brasileiro (mesmo que a parte mais popular do público – a que se diz pop – não a reconheça como tal). Sua obra chegou a mim em meados de 2006 (final de 2005, na realidade), antes do lançamento do álbum Lá nos Primórdios. Meu primeiro contato (contato mesmo, contato real, sabe? Aquele que te deixa de 4?) foi com o Acústico Mtv que me deixou na época fascinado pela voz nada convencional e pelas letras de alto teor confessional de sua obra (é até hoje um trabalho que me traz boas recordações). Mas eis que chega a minhas mãos o Lá nos Primórdios (isso na época em que eu realmente comprava os Cd’s para ouvi-los, não para tê-los... os tempos mudaram) com suas letras, levadas, vozes, seu “Vestidinho Vermelho”, sua “Anna Bella”, sua ciranda meio jazzística, meio moderna “Valeu”, sua releitura de “Difícil” e tudo o mais. Aquilo caiu como uma luva para o que eu procurava dentro da música brasileira e eis que me torno fanático por Marina Lima e passo a conhecer os shows (o primeiro que fui, me lembro ainda hoje, foi em junho de 2007 no Citibank Hall em São Paulo, turnê Topo Todas Tour), os álbuns (o primeiro que comprei foi a coletânea Milennium – na época em que eu não era avesso às coletâneas) e tudo o mais. Marina entrou na minha vida como um baque e foi se adaptando a ela (eu fui me adaptando a ela) e assim o tempo passou. Eis que 5 anos depois o garoto fã já não é mais tão fanático assim. O fanatismo virou respeito e admiração e a euforia virou curiosidade e desejo, tudo isso somado a uma aproximação voluntária da obra da cantora e da própria cantora... Os tempos mudaram. Climax, o álbum que esperei com tamanha sede, com tamanha vontade, finalmente chegou a meus ouvidos e, ao ouvir pela primeira vez, me decepcionei. Nada do que eu imaginava, um som sem a sensualidade que eu esperava, nada do que o nome, “clímax”, sugeria, nada disso. Deixei o álbum (em forma virtual) de lado e fui procurar outras coisas para ouvir, mas alguma coisa ainda me chamava a atenção: por que eu não gostei? Por quê? Por quê? Por quê? Essa pergunta me ecoou tanto que decidi reouvir o álbum e eis minha surpresa: que trabalho maravilhoso! Marina atiça todos os meus sentidos e, depois de 5 anos, eles andaram adormecidos e quando acordaram se sentiram atordoados. Agora em total compreensão eles dizem: Estamos no clímax! O álbum me deixa bem, com vontade de produzir, com vontade de ouvir, mas o fogo já não é mais o mesmo. Nada se compara à primeira vez que ouvi “Virgem”, “Ainda é Cedo”, “Difícil”, “Vestidinho Vermelho”, “Valeu”, “Arco de Luz”, “Mesmo que Seja Eu”, enfim... Agora ouço tudo com um crivo maior: o do fã que sabe o que a cantora pode produzir e, graças, não me decepcionei. Meus instintos agora gritam felizes: Marina! Marina! Marina! Meus ouvidos me agradecem, minha alma canta sem que eu precise ver o Rio de Janeiro, porque este álbum me leva para todos os cantos possíveis, desde os abstratos até os mais concretos; Desde um belo quarto de iluminação azul e uma bela cama rodeada de espelhos (“Não me Venha mais com Amor”) até Portugal para acompanhar bela história de dúvidas (“Lex”); Me faz continuar andando sem precisar saber do meu caminho (“Keep Walking”) e faz com que eu aporte em São Paulo para explicá-la (como se isso fosse possível) e afagá-la (“Sampa Feelings”); Me faz sentir. Climax é puro sentido.

Marina está de volta (como se já tivesse sumido) e mais uma vez me deixou em ponto de bala para mais! Climax é o começo, Climax é o meio, mas, com certeza, não é nem o ensaio do fim.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Deus da Carnificína: risco dos valores na comédia


“O teatro em sua forma mais nobre. Texto da francesa Yasmina Reza ganha montagem excepcional”. É exatamente isso o que está escrito num grande cartaz que enfeita o hall do Teatro Vivo em São Paulo. A crítica de Bárbara Heliodora (a crítica de teatro mais importante – e temida – do Rio de Janeiro, quisá do Brasil) para o jornal O Globo já deixa o espectador havido para assistir uma das melhores comédias em cartaz nos palcos paulistanos. Deus da Carnificina cumpre concorrida temporada no Teatro Vivo após uma longa e vitoriosa temporada no Rio de Janeiro, no Teatro Maison de France. Tive a oportunidade de conferir a peça no sábado, 04, e tive de esperar em torno de 3 dias para poder escrever sobre, tamanho o medo de ser injusto ou leviano com as palavras. Três dias me foram o suficiente para perceber que eu tinha a razão quando pensei assim que saí do teatro: essa é a melhor comédia que já vi em São Paulo! – e olha que não foram poucas (só para constar: Trair e Coçar, é só Começar, Os 39 Degraus, Toc Toc dentre outras). Deus da Carnificina é uma comédia que coloca em risco muitos valores humanos: o do bom senso, a classe e a educação e o familiar. Trata de dois casais que se encontram numa reunião para tentarem resolver um problema que chega até a ser normal na vida dos pais: uma briga dos filhos. O filho de um dos casais acertou o filho do outro com um pedaço de madeira, “desfigurando” o garoto, como sentenciou Deborah Evelyn que dá vida a uma deliciosa Veronica: mãe zelosa, mulher de bons costumes e que preza pela moral, classe e educação. Bem parecida com sua personagem na novela das 21h, mas ainda assim muito diferente. A comédia não tem um único ritmo, ela vai se intensificando à medida que a história se desenrola e é essa uma das magias do texto de Yasmina Reza (a qual acaba de ganhar um admirador) muito bem traduzido por Eloísa Ribeiro (citando Bárbara Heliodora). A ideia de unir os dois casais com um tema que, a princípio, parece desinteressante acaba por ser o grande trunfo: como um tema desinteressante pode culminar numa das grandes loucuras atemporais de todos os séculos. Os quatro atores (Deborah Evelyn, Júlia Lemmertz, Paulo Betti e Orã Figueiredo) criam em cena um equilíbrio denso e ao mesmo tempo leve, em nenhum momento você se cansa de ouvir as histórias ou de ver as cenas. Júlia Lemmertz está, sem dúvida, em sua melhor forma dando vida à mãe do agressor mirim; Paulo Betti conseguiu fazer de uma personagem a princípio desinteressante um grande achado; Deborah Evelyn usa de toda a sua dramaticidade já mais que comprovada para criar uma personagem meio histérica meio equilibrada, uma delícia vê-la em cena; Mas o grande destaque é de Orã Figueiredo, que toma pra si as grandes piadas da peça e faz jus a elas, numa interpretação que passa do jocoso-cômico ao dramático em questão de segundos. É um prazer vê-los, principalmente quando estão em plena comunhão com o cenário. Discordando de Bárbara Heliodora que achou a introdução do espetáculo longa e sem sentido, achei-a talvez não necessária, mas aceitável, e mais: explicável. Enquanto rola a canção de introdução, Deborah e Orã arrumam o cenário (que a princípio parece sujo demais, muito em cena, mera impressão), arrumam a casa para receber os pais do agressor de seu pequeno filho. Um cenário nada simples, mas nada escrachado, puramente necessário (o jogo das cadeiras, os livros, as flores, o vaso, tudo!). E para finalizar algo que merece ser citado: a espontaneidade dos atores. A prova viva de que havia prazer em estar em cena era vê-los segurando as risadas quando Deborah jogava algo em Orã, ou então quando nenhum dos quatro conseguiu segurar o riso levando a plateia abaixo em espontâneos aplausos. Uma delícia.

Enfim, Deus da Carnificina merece ser visto e revisto (meu ingresso para a próxima vez já está garantido) porque o prazer de rir com essa peça (inteligentíssima, sem usar de clichês e apostando em piadas imprevisíveis) nunca é demais.