segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Histórias e canções do pequeno burguês, Martinho


O Que não foi Dito
Opinião de Cd
Título: O Pequeno Burguês
Artista: Martinho da Vila
Gravadora: MZA Music
Cotação: ****

Martinho da Vila decidiu fugir da mesmice de gravar um Cd e um DVD num show ao vivo. Ao invés disso, o sambista decidiu montar um show e registrá-lo em Cd e DVD. Até aí parece que nada mudou e que estou me contradizendo. Realmente, eu estaria me contradizendo, mas não é o caso de O Pequeno Burguês. Lançado num pacote com Cd e DVD, o projeto é uma comemoração dos 70 (bem vividos) anos de vida do compositor de Vila Isabel. Martinho decidiu fugir da fórmula dos shows convencionais e montou um espetáculo que une histórias e canções. Martinho fez do palco do Teatro Fecap uma gigantesca roda de samba, que abre espaço para histórias, brincadeiras e, lógico, muito samba. Martinho vai contando histórias sobre as canções, enfileiradas perfeitamente num roteiro descompromissado e com um único intuito: divertir. Grandes hits do cantor estão ali, grandes canções e grandes composições.

O disco é aberto com uma faixa em estúdio, a bela “Filosofia de Vida”. Martinho abre o disco já contando história e cantando, quase à capella, “Linha do Ão (Tabela do Galão)”. As histórias permeiam praticamente todas as músicas. Uma delas fala sobre os grandes Festivais promovidos pela rede Record. As faixas “Menina Moça” e “Casa de Bamba” agregam histórias interessantes desta época. Martinho ainda lança mão de canções mais politizadas, porém sempre com o seu toque de diversão, caso de “Pra que Dinheiro”, e até da faixa-título, “O Pequeno Burguês”. “Quatro Séculos de Modas e Costumes” também é faixa interessante, mas perde terreno para a história contada durante o belíssimo samba “Madrugada, Carnaval e Chuva”, que conta do desastre de um dos desfiles da escola de samba carioca Vila Isabel. Martinho ainda ataca com “Yayá do Cais Dourado”, mas se diverte mesmo ao cantar a belíssima “Jaguatirica” e contar da história dos saraus de composição de arma em sua casa. O co-autor da canção, Zé Catimba, também participa da faixa. Uma das melhores do álbum. Há faixas menores, como o medley “Na Aba” e “Agora é Moda” (que conta com participação de Paulinho da Aba, cantando, sozinho, a faixa) e “No Embalo do Samba”. O Cd atinge grande ápice já no final, com os sambas “Meu País” e “Tom Maior”. A primeira vem junto a uma história interessante sobre a ditadura, na época em que foi implantado o plano para a votação direta do presidente da república. Martinho conta que, no final, a música não deu em nada, mas vale pelo samba (quase) partido alto. E a última faixa é o samba mais belo (ou um dos mais belos) da carreira de Martinho, e fecha o disco. O samba da época das rodas de samba no grupo Opinião. Ali nasceu “Tom Maior”, dedicada, no disco, “a todas as mamães e futuras mamães que querem um Brasil melhor”. Grande momento. O presente olhando para o passado.

O Pequeno Burguês pode não ser o maior ou o melhor disco da carreira de Martinho, mas é, com certeza, um dos mais deliciosos de se ouvir. Valeu.


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