quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A classe e a singeleza de Milton e Belmondo


O Que não foi Dito
Opinião de Cd
Título: Milton Nascimento & Belmondo
Artista: Milton Nascimento e Belmondo
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: **** 1/2

Jazz de melhor qualidade, clássico da música erudita, sonoridade ambientada numa Paris do final da década de 40 e cordas de uma das orquestras mais aclamadas da atualidade por toda a Europa. Una tudo isso à voz inigualável e aos grandes sucessos da carreira de Milton Nascimento. Pronto! Você terá um dos mais belos discos que aportaram com quase dois anos de atraso no mercado brasileiro. Milton Nascimento & Belmondo é o álbum gravado por Milton Nascimento em parceria com os irmãos Lionel e Stéphane Belmondo, atual dupla de destaque no cenário do jazz francês. O disco, lançado em meados de 2008 na França, é um dos mais belos e elegantes dos últimos tempos.

A idéia principal era de que o disco fosse gravado apenas pelos irmãos Belmondo, e que Milton fizesse apenas uma participação em alguma das faixas. Mas o fundador do Clube de Esquina gostou tanto de cantar ao lado dos irmãos, e eles idem, que decidiram por fazer o disco inteiro em parceria. Daí nasceu Milton Nascimento & Belmondo, lançado no Brasil pela gravadora Biscoito Fino. Além da sonoridade classuda e elegante, outro ponto interessante do disco é o fato de Milton ter espaço para revisitar alguns dos clássicos de sua carreira. Canções como “Travessia” e “Nada Será como Antes” podem até soar como “chapadas” para quem apenas lê o encarte do álbum, mas elas ganham um novo arranjo e uma nova ambiência na gravação de Milton com a dupla.

A abertura fica por conta de “Ponta de Areia”, gravada na habitual singeleza dos registros de Milton para esse clássico. “Canção do Sal” também ganha versão inspirada, feita para ser ouvida nos melhores cafés de Paris. Outro grande momento é “Memória dos Peixes”, com direito às cordas da Orquestra Nacional da França. A faixa é um dos grandes momentos do álbum. Talvez pelo arranjo, talvez pela bela letra. Milton Nascimento, aliás, é, além de um grande compositor, uma das mais belas vozes do Brasil, prova disso são os vocalizes que Milton faz durante toda a faixa “Oração”, a ária de César Franck adaptada por Christophe Dal Saso. Lindo.

Milton mostra que clássicos são sempre eternos em qualquer arranjo, mesmo estando quase irreconhecível, “Travessia” ainda soa eterna, mas com um ar de frescor. Assim como “Morro Velho” que, além da bela letra, é levado com singeleza e delicadeza impares, tanto por Milton quanto pelos Belmondo. Maior surpresa do disco (ou uma das), “Nada Será como Antes” reaparece totalmente modificada. Adornada com leves toques de uma classuda bateria, de um piano certeiro e de sopros deliciosos, a faixa é o destaque do álbum. Um clássico que continua eterno. Das 10 faixas, há apenas 1 inteiramente instrumental. O medley de “Berceuse” e “Malilia” é a única faixa que não tem a voz de Milton, mas nem por isso chega a ser um momento menor do disco, visto a qualidade do álbum. Não há nenhum momento destoante. Tanto é verdade que uma canção menor como “Saudade dos Aviões da Panair” torna-se um dos momentos lindos do álbum que é fechado com uma vinheta classuda de “Ponta de Areia”, encerrando o álbum da mesma maneira singela e classuda que abriu.

Milton Nascimento & Belmondo pode até ter chegado com um atraso de datas ao mercado brasileiro, mas jamais com algum tipo de atraso artístico. Milton é como vinho: com o passar do tempo fica cada vez melhor. Valeu.


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