VALE À PENA VER/ OUVIR DE NOVO
Opinião de DVD
Título: Ângela RoRo Ao Vivo
Artista: Ângela RoRo
Gravadora: Indie Records
Cotação: *** ½
Ano de lançamento: 2006
Após passar 6 anos sem lançar nenhum trabalho novo, Ângela RoRo retorna ao mercado fonográfico com o lançamento de dois Cd’s e um DVD. Ângela RoRo Ao Vivo é o título do DVD e de um dos Cd’s, que unem 16 hits da carreira da cantora, registrados num show realizado no Circo Voador (Rio de Janeiro) em setembro de 2006. O DVD não apresenta nenhuma das canções inéditas presentes no disco de inéditas que a cantora lança via Indie Records, Compasso, mas vale como o registro de um show feliz.
A áurea jovial do Circo Voador e do público que compareceu em peso para prestigiar o show são dois detalhes que fazem com que RoRo se sinta em casa e à vontade para usar e abusar do palco. Magra, sóbria, livre das drogas e com a voz ainda impecável (como no início de carreira), Ângela domina o palco.
A canção que abre o DVD é o samba “Acertei no Milênio”, seguida de um dos belos números do show, “O Cinema, a Princesa e o Mar”. Ambas as faixas fazem parte do último (bom) disco de inéditas da cantora, Acertei no Milênio (2000). RoRo comemora seu retorno em grande estilo. E com direito até a convidados. O primeiro foi Luiz Melodia que, junto à Ângela, fez sensual registro da bela balada “Tola foi Você” (lançada em 1979, no primeiro disco de Ângela, o inesquecível Ângela RoRo). Entre baladas menores, como “Meu Benzinho”, e estupendos sucessos, caso de “Escândalo” (Caetano Veloso), Ângela mostra que sua voz continua na velha forma, e sempre melhorando. O último número, aliás, é um dos grandes pontos do DVD. A interpretação de Ângela para a canção que deu nome à seu disco em 1981, Escândalo, é interpretada com um único aparato cênico: a emoção da cantora.
O roteiro abrigou, com prioridade, hits da carreira da cantora, uns menores e outros maiores, como a balada “Só nos Resta Viver” (a canção que deu título ao segundo álbum da cantora, de 1980). Segunda convidada da noite, Alcione fez bonito ao lado de RoRo ao reviver “Joana Francesa”. A canção composta por Chico Buarque e levada em português e francês. Impecável. Hit de menor apelo popular, mas de incontestável beleza, “Fogueira” chegou à cena como destaque do roteiro. O show pode não ser um grande espetáculo, com aparatos cênicos e visuais, mas o mais importante estava lá: a música. Música que ficava cada vez mais evidente, não por acaso, graças à banda que acompanhava a intensa cantora. Formada por baixo (Zé Luís Malta), guitarra (João Gaspar), bateria (Rafael Barata), sax (Zé Carlos Bigorna) e teclado (Ricardo Mac Cord – que também assina a direção musical do show). A direção do show, aliás, é da própria RoRo.
Em cena, Ângela RoRo encarna as mais diversas personagens, dentre elas a personagem sofredora e romântica retratada na bela balada “Ne me Quitte Pas”, de Jacques Brel. A canção belga (e não francesa, como revela Ângela em entrevista presente nos extras do DVD) é outro ponto alto de um DVD repleto de acertos. “Came e Case”, outro hit do repertório de RoRo, se destaca pela força da interpretação da compositora. Ângela é multifacetada, e mostra muito bem suas outras faces quando revive dois Standards do jazz americano. “All of Me” (Simons/ Marks) e “Night and Day” (Cole Porter) ganham outra visão pela lente antenada da cantora.
Terceiro e último convidado da noite, Roberto Frejat dá turbinada rock à “A Mim e a Mais Ninguém”. Munido de sua potente guitarra e de sua, igualmente potente, voz, Frejat dá, ao lado de RoRo, um show na interpretação do rock de Ângela e Sérgio Bandeyra. Outra parceria com Bandeyra, essa de menor apelo popular, “Querem nos Matar” não é um dos momentos mais empolgantes do DVD. Sensível, Ângela soube transpor em cena a beleza e delicadeza de “Simples Carinho”, a canção de João Donato e Abel Silva lançada pela cantora em 1983 no disco homônimo. Maior hit da carreira de RoRo, “Amor, meu Grande Amor”, encerra o DVD com chave de ouro. A parceria de Ângela com Ana Terra turbina com beleza, delicadeza e força o encerramento do show, sendo, assim, o último número do DVD.
O extra do DVD agrega entrevista, intitulada “algumas histórias”, onde Ângela comenta sobre as canções do DVD e sobre a carreira, desde o início até o atual momento, passando por bebida, drogas, escândalos (inclusive sobre a composição da canção “Escândalo”, de Caetano Veloso que deu título ao disco que lançou em 1981, e deu conta de alavancar à carreira de Ângela após escândalo que a levou às páginas policiais) e a recuperação no ano 2000.
Ângela RoRo Ao Vivo é o bom registro de um bom show que marca a boa volta de uma ótima cantora. RoRo merece atenção. Sua obra impecável está aí registrada e, mesmo com faltas sentidas (como é o caso de canções como “Gota de Sangue”, “Não há Cabeça” e “Balada da Arrasada”), ficará para todas as gerações que quiserem ver. RoRo é 10!
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