sábado, 5 de dezembro de 2009

Corajosa, RoRo acertou no milênio e no disco


VALE À PENA OUVIR DE NOVO
Opinião de disco
Título: Acertei no Milênio
Artista: Ângela RoRo
Gravadora: JamMusic
Cotação:
*** ½
Ano de lançamento: 2000

Livre da bebida, das drogas, de bem com a vida e com sua saúde, Ângela RoRo lança, depois de 7 anos de hiato fonográfico, seu primeiro disco pela JamMusic. Acertei no Milênio é o título do (bom) álbum que marca a reconciliação de RoRo com sua carreira. São 13 faixas, sendo 9 inéditas e 4 regravações. RoRo mostra todas as suas facetas neste novo trabalho. Desde a sambista presente em várias faixas do álbum até a cantora de jazz (ensaiada no seu último álbum, Nosso Amor ao Armagedon, e encarnada de vez na gravação de “All of Me”). RoRo está inteira.

O disco é aberto com o bolero “O Cinema, a Princesa e o Mar”, que já se destaca como uma das melhores canções da (vasta) safra autoral da cantora. “Acertei no Milênio” (clara alusão ao samba “Acertei no Milhar”, de Moreira da Silva) é a segunda faixa do disco, e a que abre a parceria de Ângela com seu fiel amigo e tecladista Ricardo Mac Cord. Outro destaque do disco é “Boemia do Sono”, a terceira faixa do disco, onde a cantora mostra ao público que está iniciando uma nova fase em sua vida, livre de drogas, cigarro, bebida e passando a cuidar da saúde (livre também da obesidade que a assolava desde o início da carreira). Se “Sim, Dói” não se destaca entre a safra de inéditas, o funk “Viciei em Você” é outro destaque do disco.

Ângela se mostra multifacetada, sendo capaz até de marcar com seu próprio carimbo o standard jazzístico “All of Me” (Seymour Simons/ Gerald Mark), e retirar do baú e turbinar “Don’t Let me be Misunderstood” (hit do grupo The Animals). RoRo mostra até sua face de fã, ao regravar, em ritmo de blues, “Gota D’Água”, de um inspirado Chico Buarque. Outra canção da safra de inéditas que perde o fôlego é “Coquinho” que, assim como “Sim, Dói”, tem boa letra, mas os arranjos não lhes fazem jus. É uma bossa interessante, mas que não justifica sua presença no álbum.

Marca registrada das composições de Ângela, o bom-humor não poderia deixar de estar presente. Seu inspirado humor marcou presença em “Fila de Ex-Mulher” (samba que poderia ser muito bem gravado por bambas, como Martinho da Vila e Jorge Aragão). RoRo continua a compositora inspirada que sempre foi e, desta vez, viaja por diversas áreas da música. O samba, que, surpreendentemente, reina no disco, dá espaço a uma toada à lá Inezita Barroso. “Raiado de Amor” não tem grande destaque, mas é boa canção feita com amor e paz. Ao ouvir o disco, em seus quase 50 minutos, é possível notar uma leveza e um amor de uma Ângela mais leve e menos tensa. A tensão deu lugar à intensidade. Intensidade que, unida ao talento e à rispidez da cantora, dão origem à outro destaque do disco, a venenosa “Garota Mata Hari”. Parece um recado direcionado, mas tudo fica nas entrelinhas para quem quiser entender.

Os arranjos de Mac Cord dão conta do disco, fazendo com que ninguém sinta muita falta de toda a orquestra presente nos últimos discos da roqueira-pop-sambista. A banda é menor, mas nem por isso menos competente. E todo esse ar “pseudo-intimista” é ensaiado de maneira interessante na faixa que fecha o disco. "50 Anos", a bossa discreta composta por Aldir Blanc e Cristóvão Bastos lançada por Paulinho da Viola na década de 90 no disco em comemoração ao cinqüentenário de Blanc, é prova da competência da intimista banda.

Acertei no Milênio pode não ser o melhor disco da carreira de Ângela RoRo, mas é a prova viva de que, daqui pra frente, a cantora apenas crescerá e amadurecerá cada vez mais. Livre de todos os empecilhos que a tiraram de cena por 7 anos, RoRo está renovada. Acertou, e muito, no milênio.


Um comentário:

Anônimo disse...

Oi querida, parabéns a Angela Ro Ro, precisamos ter força de vontade mesmo, pois drogas não levam a nada.
Boa sorte a ela.