quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Marina volta a seus primórdios olhando pro futuro


Vale à Pena Ouvir de Novo
Opinião de Cd
Título: Lá nos Primórdios
Artista: Marina Lima
Gravadora: EMI Music
Cotação: ****
Ano de lançamento: 2006

Marina Lima é uma batalhadora. Foi descoberta no final da década de 70, já virando para 80 (1979), viveu seu auge nos anos 80, início dos 90, e, de 95 pra frente, se afastou dos palcos devido a uma forte depressão. Lançou discos no período de descoberta da doença (Abrigo, 1995), durante a forte crise (Registros à Meia-Voz, 1996) e já prestes a se curar (Pierrot do Brasil, 1998). Nenhum deles foi bem aceito pelo público ou pela crítica. A voz da cantora havia mudado e não estava agradando nem críticos nem parte de seu público dos anos 80, que se distanciou da obra da cantora. Em 2000 finalmente voltou aos palcos com o show Síssi na Sua. Apesar de ter tido uma melhora na voz, continuava um tanto fraca, e nem o show (nem o disco ao qual deu origem) agradou ao público ou a crítica especializada. Em 2001 se aventurou na área eletrônica ao lançar Setembro, mas também não foi um disco tão bem aceito. Em 2003 apostou na cartilha do Acústico Mtv, mas, de tão inapropriado, foi um dos poucos da série que não “aconteceu” no mercado. Em 2005, Marina estreou um show novo, no recém estreado Auditório do Ibirapuera, em São Paulo. Bingo. O show foi um sucesso de público e crítica. Em 2006 a cantora lança Lá nos Primórdios, o disco que leva ao estúdio canções inéditas do show e algumas releituras de outras canções da própria Marina, e até de Chico Buarque.

Lá nos Primórdios é o disco onde Marina consegue encontrar o equilíbrio entre a música pop e a música eletrônica, fundindo os dois e mostrando resultado agradável. A voz também está mais firme e confiante, mostrando nítida melhora.

O disco é aberto com um tango “funkiado” (como a própria Marina destaca). “Três” é a parceria de Marina com seu irmão e parceiro fiel, o filósofo e poeta Antônio Cícero. A canção se destaca entre as melhores da safra dos irmãos. “Valeu” é a segunda faixa. Uma ciranda criada apenas por Marina, inspirada nos ritmos do sul, mas tudo à moda de uma Marina Lima cool, moderna e eletrônica. “Anna Bella”, a terceira faixa do álbum, é mais uma parceria de Marina com Cícero, e chama mais atenção pela inspirada letra (que contém versos como a contestação de “por que as mulheres também não podem ter a sua sauna gay?”) do que pela própria melodia. Canção lançada por Marina em 1985, “Difícil” ganha arranjo pesado e interessante, sendo um dos destaques do disco. “Entre as Coisas” também é destaque. Outra composição inspirada, essa só de Marina. O rock é pesado e moderno. Alvin L. também contribui para o novo disco de Marina (o compositor estreou como parceiro da cantora em 1993 no disco O Chamado, mas, em 1991, Marina já havia gravado “Não sei Dançar” no álbum Marina Lima). O compositor dá para a cantora versão cool de “Beautiful Red Dress”, da norte americana Laurie Anderson. Virou “Vestidinho Vermelho”. Outra releitura é a de “Meus Irmãos”, a canção que Marina lançou em 1993 no supracitado O Chamado reaparece no disco de forma mais obscura, sem os violões que marcaram a gravação original. Única canção ainda inédita que não havia entrado no show Primórdios, “Que Ainda Virão” não é uma das canções mais inspiradas de Marina (que assina sozinha a faixa). Marina traz para o disco a regravação de “$ Cara”, sua parceria com Cícero, lançada em 1989 no disco Próxima Parada (que, na época, não agradou Marina). A canção reaparece mais pesada e noturna. Última das regravações, “Dura na Queda” (Chico Buarque) fecha o disco. A canção foi composta por Chico para fazer parte do musical em homenagem a Elza Soares e, mais tarde, foi gravada pela “mulata assanhada” no disco Do Cóccix até o Pescoço. A gravação de Marina é minimalista. A cantora diminui o ritmo do samba e o tamanho da letra. O disco é composto por mais duas faixas: remixes das faixas “Valeu” e “Vestidinho Vermelho”. A primeira foi remixada por DJ Dolores, que transformou a canção numa ciranda eletrônica voltada para as micaretas cool da noite paulistana. Já a última ficou a cargo do DJ Zé Pedro, que transformou a canção numa balada feita para as pistas de dança.

Lá nos Primórdios é o melhor disco de Marina nesta nova fase, desde Pierrot do Brasil é o que merece maior destaque. A “gata todo dia” mostra que não está escaldada, e tem muito o que mostrar ainda.


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