sábado, 1 de novembro de 2008

Vale à pena ouvir de novo: Rita volta aos trilhos do bom rock em belo disco.


Opinião de CD
Título: Rita Lee

Artista: Rita Lee

Gravadora: Som Livre/ Série Gala

Cotação: *** ½

Ano de lançamento: 1993

Depois de excursionar pelo seu próprio repertório em forma de bossa nova com o belo disco Bossa N’ Roll (1991), a rainha do rock Rita Lee voltou a seu trono com um novo e belo trabalho. Rita Lee não é exatamente um disco de rock como os da época do tropicalismo e tutti-frutti, é mais incensado e pensado, com letras descontraídas, porém voltadas para um público específico. Os fãs da roqueira.
A canção que abre o disco é o rock
“Filho Meu”, belo apelo de seu filho ao abrir os olhos da mãe para as novidades tecnológicas do mundo atual, a canção lembra bem as canções da fase “mutante” da cantora. Em contrapartida com o rock de abertura, a canção que segue, “Tataratlantes” já é mais voltada para uma bossa nova não tão velha, levando-nos a acreditar que Rita revirou seu baú de lembranças para tirar de lá a bela bossa da Nara. À medida que segue, o disco perde sua força roqueira proposta na canção de abertura e vai ganhando outras faces, seja a face “cabaré” proposta em “Drag Queen”, contando a história de uma Drag em Paris, herança de “Três Travestis”, bela canção feita por Caetano Veloso para Ney Matogrosso que acabou caindo na voz de Zezé Motta, ou a balada açucarada em “Mon Amour” que, aliás, é bela parceria de Rita com Nelson Motta. Tal força roqueira é revisitada em “Menopower”, ótimo rock que caracteriza as mulheres numa menopausa atacada. Sem empolgar, Rita faz releitura de “Maria Ninguém”, bela bossa do cancioneiro de Carlos Lyra. A canção soa como um anticlímax em relação ao rock “Todas as Mulheres do Mundo”, uma bela homenagem a todas as mulheres desse nosso planeta, homenagem essa não tão revoltada como a que marcou “Elvira Pagã”, canção lançada em 79 por Rita em seu belo disco Rita Lee (1979).
Heranças do último disco ainda ecoam neste trabalho da roqueira que, de vez em nunca, faz pequenas citações de uma MPB mais urdida, a qual nunca se enquadrou tendo seu estilo próprio. E tais ecos são ouvidos em canções como “Ambição”, bela balada bossa-novista e minimalista do disco que marca um outro rumo na carreira de Rita. Eclética de várias formas diferentes, Rita insere uma lambada em forma de rock no disco, é o caso de “Canaglia”, divertida versão de Patrício Bisso para a lambada composta por Katina Ranieri e Riz Ortolani. Rita segue com seu rock pesado ao interpretar a religiosa “Benzadeusa”, homenagem às santas protetoras de todas as mulheres. Ainda em seu rock, porém agora mais gótico Rita lança mão do órgão de Petroff para interpretar “Deprê”, ótima parceria da rainha do rock com Oswaldo Luís. Em estréias, Rita molda sua parceria com Itamar Assumpção em “Só Vejo Azul”, bela balada que evoca os vocais da primeira parceria da dupla, a rara “Venha até São Paulo”. Com linda parceria com Carlos Rennó, o disco é fechado ao som da italianíssima “Dami Mille Bacci”, a bela valsa da dupla.
Enfim, mesmo sem Roberto, Rita mostra que sabe fazer o bom rock paulista e não perdeu o trono de rainha do rock brasileiro. Good save the queen!