sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

"Promises" é revival delicioso com ar vintagne


Uma Semana na Broadway
Opinião de musical

Título: Promises, Promises
Texto: Neil Simon
Músicas e letras: Hal David e Burt Bacharach
Direção e coreografia: Robert Ashford
Elenco: Kristin Chenoweth, Sean Hayes, Tony Goldwyn, Brooks Ashmankas, Dick Latessa e grande elenco
Local: Broadway Theatre - Broadway - New York - NY (EUA)
Data: 29 de Dezembro de 2010
Cotação: ****

Revival do famoso musical da década de 60, Promises, Promises é, sem dúvida, um bom programa para quem estiver passando uma semana na Broadway. O famoso musical de Neil Simon (baseado no filme The Apartment) é uma comédia romântica divertida, com ótimos atores e músicas inesquecíveis. É também a estreia (e a consagração) de Sean Hayes na Broadway. A história é ambientada na década de 60 num EUA conservador e machista e tem como mote principal a história de Chuck Baxter (Sean Hayes), rapaz solteiro que trabalha numa seguradora e, para tentar chegar mais perto da tão sonhada promoção, empresta seu apartamento para seus chefes, para que se encontrem com suas respectivas amantes. Acontece que Chuck alimenta uma paixão platônica por Fran Kubelick (Kristin Chenoweth), a garçonete da empresa, que é também amante de JD Sheldrake (Tony Goldwyn), que pede para que Chuck lhe empreste seu apartamento para um encontro secreto com a amante. No entanto Sheldrake deixa Fran abandonada no apartamento e decide tomar um trem para ir passar o Natal com sua família. Neste meio tempo aparece Chuck que faz amizade com Fran e, juntos, passam todas as comemorações de fim de ano no apartamento do rapaz.

A comédia é, de fato, boa, e une um elenco de real peso. Infelizmente, aquela que deveria ter maior destaque é justamente a que menos se destaca. Kristin Chenoweth não consegue, neste espetáculo, mostrar todo seu talento e versatilidade. O papel dado à atriz é ingrato, ela não consegue brilhar na pele de Fran. O problema de Kristin é o excesso de botox. Ela fica parecendo uma grande boneca de gesso, sem conseguir, por muitas vezes, expressar emoções. Ela também está extremamente magra. Não fosse a peruca mal saberíamos se Kristin está de lado ou de frente. Isso a prejudica. Mas nada consegue ofuscar sua voz, que continua potente. Foram incluídas no espetáculo duas canções para que Kristin pudesse brilhar mais. Dois sucessos de Burt Bacharach: “I Say a Little Prayer” e “A House is not a Home”. Kristin realmente brilha, mas poderia ter sido Melhor.

O musical, no entanto, tem um saldo positivo, principalmente pelas (ótimas) canções. Já no “Overture” (que praticamente apresenta ao público as duas canções novas no roteiro original), as belas coreografias de Robert Ashford (também diretor do espetáculo) fazem toda a diferença. Sean tem seu grande primeiro momento já em sua primeira canção, “Half as Big as Life”. Mas, há de se convir, que o real grande momento do ator é uma cena hilária (que já vale o preço do ingresso – muito em conta, vale ressaltar – U$ 56,90) onde ele tenta entender e depois se sentar numa daquelas cadeiras “la chaise” (aquelas estranhas feitas de acrílico que tem um furo no meio, criadas por Charles & Ray Eames e que foi uma verdadeira febre no design dos anos 50). O ator tem um tempo de comédia ímpar, não se rende à piadas fáceis. É um verdadeiro achado (quem não liga o nome à pessoa, Sean fazia o amigo gay afetado de Will na série Will & Grace).

Sean e Kristin têm bons momentos juntos, mas Kristin acaba ofuscada por Sean e até mesmo por Katie Finneran que surge no segundo ato para uma cena pequena, mas hilária, como uma bêbada que faz amizade com Sean na mesa de bar. Tem (muita) graça. Entre as canções que se destacam, a maioria é cantada por Kristin (“You’ll Think of Someone” – em dueto com Sean –, “I Say a Little Prayer”, “Knowing When to Leave”, “A House is not a Home”, “Whoever You Are, I Love You”), mas também há grandes momentos de Sean (um cantor exímio), como “It’s Your Little Secret” – num dueto harmonioso com Tony Goldwyn). O gran finale é dado num clima meio bossa nova, quando Fran e Chuck se encontram pela última vez, já conscientes do sentimento de um pelo outro, decidem não levar nada à frente, encerrando com chave de ouro num momento meio bossa nova, onde, sentados no sofá do apartamento, cantam “I’ll Never Fall in Love Again”. Belíssimo. Mereceu até BIS na despedida do casal.

Enfim, Promises, Promises tem um saldo positivo e, em boa ou má forma, vale sempre à pena ver Kristin Chenoweth, assim como sempre valerá à pena ver Sean Hayes e sempre valerá à pena ouvir tudo que for feito por Burt Bacharach. Promises, Promises vale à pena.

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