quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

"Addams" prende pelo humor, não pelas músicas


Uma Semana na Broadway
Opinião de musical
Título: The Addams Family
Texto:
Marshall Brickman e Rick Elice
Músicas e letras: Andrew Lippa
Direção: Phelim McDermott e Julian Crounch
Elenco: Nathan Lane, Bebe Neuwirth, Krysta Rodriguez, Kevin Chamberlin, Jackie Hoffman, Adam Riegler, Zachary James, Terrence Man, Carolee Carmello e Wesley Taylor
Local: Lunt-Fontanne Theatre - Broadway - New York - NY (EUA)
Data: 28 de Dezembro de 2010 (sessão extra)
Cotação: ***

Musical duramente atacado pela crítica especializada americana, The Addams Family ganhou, no entanto, uma noite extra para comemorar o reveillon antes de sair de cena em 2010 para voltar no meio de janeiro. O musical de Marshall Brickman e Rick Elice, no entanto, não é memorável. Pelo contrário, é apenas um musical correto e engraçado, e é exatamente nesta “graça” que os diretores Phelim McDermott e Julian Crouch se escoraram para levar a vida da família mais famosa da TV norte americana para os palcos. A escolha do elenco foi acertada: estavam lá ídolos da Broadway que protagonizam comédias como ninguém, dentre eles Nathan Lane e Jackie Hoffman que, em cena, já valem o ingresso. No entanto tanta graça dilui o que deveria chamar mais atenção: as músicas. No palco, as canções de Andrew Lippa soam apenas como pano de fundo para a história da gótica família. As músicas são boas, é claro, mas poderiam ser melhor.

O “Overture” dá a impressão errada das canções do espetáculo. Poucas são tão boas quanto a canção de abertura: “When You’re an Addams”, o delicioso tema com acento meio pop meio latino protagonizado por um delicioso Nathan Lane (Gomez) ao lado do elenco composto por Bebe Neuwirth (Morticia), Krysta Rodriguez (Wednesday), Kevin Chamberlin (Fester), Adam Riegler (Pugsley), Jack Hoffman (Grandmama) e Zachary James (Lurch). É bom de se ver. A história, no entanto, segue linear. O texto é realmente engraçado, mas não adiciona muito à história, pode-se dizer que quase não há grandes momentos, mesmo com bons solos, como o protagonizado por Krysta Rodriguez (que encarna uma convincente Wednesday Addams) durante “Pulled”, mostrando toda a angústia da personagem ao querer se deixar levar pelo amor, que a “puxa a outra direção”, diferente da de sua família. A confusão se arma quando o namorado da garota leva seus pais para irem jantar na casa dos Addams, preocupados Gomez (Nathan Lane) e Morticia (Bebe Neuwirth) tentam entender o que está acontecendo com sua filha “que já fizera tanta gente feliz com sua cara fechada”. Enfim, o primeiro ato resulta, no todo, pouco sedutor, mesmo com bom solo de Nathan Lane em “Morticia” (declaração de amor feita por Gomez a sua amada) e com a boa “One Normal Night”, mesmo assim a história continua linear. A grande mudança vem apenas no final do primeiro ato quando, juntos, o elenco bota a voz a cargo de “Full Disclosure” que tem belo momento solado por Carolee Carmello (Alice, mãe de Lucas, namorado de Wednesday), num momento essencialmente lírico onde a personagem expõe suas amarguras em “Waiting”, é momento bonito que cai no banal quando Nathan volta a assumir a segunda parte de “Full Disclosure” que, em meio a uma grande confusão, encerra o primeiro ato.

O segundo ato soa mais sedutor visto que a ideia de resolver os problemas deixados no primeiro parece interessante. A primeira canção do segundo ato é belo momento protagonizado por Bebe Neuwirth. “Just Around the Corner” é o momento de Bebe em cena que, no segundo ato, cresce e aparece. Assim como Kevin Chamberlin que sola espetacular momento meio lírico meio grotesco em “The Moon and Me” onde, tocando bandolim, faz bela declaração de amor a sua namorada, a lua. Outro belo momento é o solo de Nathan Lane em “Happy Sad”, momento em que Gomez percebe que sua filha está crescendo e faz um paradoxo entre a satisfação de vê-la traçar seu caminho, já grande e feliz e a tristeza de vê-la partir. Belo. É também no segundo ato que se vê a majestade de Lane que, mesmo tendo dominado todo o primeiro ato, consegue se sobressair mais ainda neste segundo. Aliás, em todo o espetáculo. É a vez de Nathan que, com sua cara de enfadonho, dá a Gomez o tom perfeito de uma comédia satírica e sagaz, principalmente quando, junto a Jackie Hoffman protagoniza momentos hilários. Jackie, aliás, aparece pouco na peça e tem poucas falas, no entanto todos os momentos em que aparece marca sua presença com divertidas tiradas regadas a mais fina ironia. Grande achado no texto.

O musical chega ao seu ápice quando está chegando ao fim, em belo dueto de Nathan e Bebe em “Live Before we Die” e na (boa) coreografia traçada por ambos no belíssimo “Tango de Amor”, talvez o tema mais bonito do espetáculo, que é encerrado com um bom tema, “Move Toward the Darkness” quando, pela primeira vez em todo o espetáculo, ouve-se a voz de Zachary James, que encarna Lurch, o mordomo calado da família, que faz apenas alguns rugidos e sons com a boca, mas, durante todo o espetáculo, mal abre a boca. O ator, no entanto, demonstra ótimo trabalho corporal e ótimo preparo vocal, assim como todo o elenco reunido.

Enfim, The Addams Family não é um musical memorável, mas é um musical que merece ser visto pelos seguintes motivos: Nathan Lane, Bebe Neuwirth, Kevin Chamberlin, Jackie Hoffman e pela descontração. Valeu.

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