sábado, 15 de janeiro de 2011

Novela termina bem com uma Ximenes bárbara


Foi ao ar ontem (14 de janeiro de 2011) o último capítulo da novela Passione, novela de Silvio de Abreu com direção de Denise Saraceni. A trama italiana tinha como meta levantar os baixos índices de audiência deixados por Manoel Carlos e sua (sonolenta) Viver a Vida. Infelizmente Silvio de Abreu não conseguiu cumprir a meta de levantar os índices do ibope. Não por ter em mãos uma história ruim ou um elenco incompatível com o público, mas sim por ter uma história que não agradou ao público (ou um público preguiçoso – que é minha aposta). A novela se mostrou um tanto enfadonha nos primeiros capítulos. A estória de Totó e sua família do núcleo italiano parecia não engrenar. Foi só os italianos mudarem para o Brasil que a história enfim engrenou de vez. A ideia de Silvio de Abreu não foi fazer nada diferente do que já vinha fazendo há algum tempo. Todos já conhecem o modo de Silvio de Abreu escrever e mostrar suas histórias. Novelas como Belíssima e O Rei da Sucata são dois bons exemplos. O autor apresentou um tipo de mix de suas novelas. Estava lá o núcleo engraçado dos “reis do lixo” protagonizados pela hilária dupla Irene Ravache (como uma hilária Clô Souza e Silva – ou Clotilde Iolanda) e Francisco Cuoco (como um ótimo Olavo); Estava lá também o famoso “quem matou” de A Próxima Vítima, com diversos assassinatos. Enfim, uma história que segurou bem as pontas.

Silvio convocou para este trabalho um elenco de peso, pois sabia que era arriscado de a história não agradar em seu início, portanto boa parte do público se seguraria no elenco. E foi exatamente assim. Fernanda Montenegro, Aracy Balabanian, Francisco Cuoco, Irene Ravache, Vera Holtz e Tony Ramos foram nomes que mantiveram a atenção de boa parte dos espectadores. No entanto nomes mais esquecidos, por assim dizer, voltaram a ganhar destaque. Ponto para Silvio que criou uma personagem bárbara para Cleyde Yáconis, a correta (porém fogosa) dona Brígida, que foi o chamariz de outras duas ótimas personagens: Antero (Leonardo Villar) e Diógenes (Elias Gleiser), que formavam um triângulo amoroso hilário e que prendeu a atenção do público por um bom tempo, reavivando o sexo na terceira idade com muita classe e graça e ganhando mais um componente: a personagem de Emiliano Queiroz (Bennedeto), italiano irmão de Antero – ou Giovanne. Silvio deu também destaque para Daisy Lúcidi, com um ótimo papel em anos. A cafetina Valentina foi um dos destaques da novela. Ótima! No entanto o grande destaque (um dos grandes destaques) vai para Mariana Ximenes. A atriz deu de cara com sua primeira vilã, a golpista ardilosa Clara. A atriz desempenhou talvez o melhor papel de sua carreira, numa atuação espetacular e construção ímpar. Acredito que a Clara seja o diploma de Mariana que, por pouco, não fica estagnada em mocinhas e personagens boazinhas. Ponto para Silvio e ponto para Mariana. Outra grande surpresa do folhetim foi Gabriel Duarte com sua fogosa Jéssica. A atriz tinha o ouro na mão e soube muito bem como lapidá-lo e transformá-lo em jóia. A atriz, conhecida pelas personagens boazinhas e bobinhas que encarnara, não deu vida a uma vilã, mas sim a uma moça um tanto fútil, mas cheia de paixão e tesão. A atriz não deixou que sua personagem caísse na vulgaridade. Manteve-a sempre classuda, hilária e fogosa. Foi um divisor de águas para Débora. Graças. Outro nome que, embora não tenha tido tanto destaque, foi uma beleza de ver foi Larissa Maciel que, um ano atrás (em 2009), encarnara com paixão a cantora Maysa, na minissérie Maysa – Quando Fala o Coração. Na novela não foi um grande papel, mas deu para prestar atenção na atriz.

Mas nem só de coisas boas se fez a novela. Infelizmente Passione teve lá suas derrapadas. Dentre elas estavam a personagem Diana. A fraca mocinha interpretada por uma insossa Carolina Dieckman caiu fora da novela para alívio de boa parte do público, que via na mocinha apenas uma garota chata e pouco interessante. Outra derrapada, essa de comoção mais geral, foi o fraco segredo da personagem Gerson, vivido por um correto Marcelo Antony (que protagonizou ótima cena ao lado de Daisy Lúcidi já na reta final da novela). O segredo de Gerson, do ponto de vista psicológico, era realmente bom e dava pano pra manga, ma so público não procurava psicologia nem psicanálise, portanto o segredo, quando revelado, frustrou o geral. Mais uma falta grave foi a escalação de Kayky Brito, que desempenhou um papel, no mínimo, vergonhoso na pele do ciclista Sinval.

A novela também revelou bons nomes da nova dramaturgia e coroou nomes que ainda passavam despercebidos. As revelações foram Mayana Moura (que roubou a cena de Carolina Dieckman na pele de Melina, ficando com o final feliz que seria de Diana) e Bianca Bin, na pele da apaixonada Fátima, que se saiu muito bem. A coroação foi de Cauã Reymond, que tratou com maturidade Danilo, sua personagem que se envolveu com drogas e acabou fora das pistas de ciclismo. Entre atuações fortes (Werner Schünemann) e fracas (Maitê Proença), a novela mostrou, no todo, um saldo positivo. Também se destacaram Reinaldo Gianecchini (com seu primeiro vilão, o golpista Fred), Rodrigo Lombardi (com mais um mocinho, Mauro), Flávio Migliaccio (com um hilário Fortunato), Alexandra Richter (com uma também hilária Jacke), a sempre talentosa Leandra Leal (por uma divertida e apaixonada Agostina) e Daniel Boaventura (o ótimo cantor e ator que encarnou o policial Diogo). Ficou a surpresa da primeira novela da ótima Simone Gutierrez. A atriz já havia mostrado que tinha talento para a comédia (quando estrelou o musical Hairspray em 2009 e 2010), mas reafirmou seu talento na pele da ótima Lurdinha. Além de contar com a participação especial da ótima Patrícia Pillar, que já fazia falta nas telinhas.

Enfim, Passione encerrou com um saldo positivo, mesmo com índices baixos. Silvio de Abreu deu um bom final á novela, salvando sua vilã (como tem se tornado praxe). Passione conseguiu cumprir a meta de tirar o eco sonolento da faixa das 21h deixada pela (insuportável) Viver a Vida. No geral teve um bom resultado

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