terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Relato de uma noite de verão 2...

3:43 da manhã, madrugada de terça-feira, 12 de janeiro de 2010. Vocês devem estar se perguntando o que eu estou fazendo aqui à essa hora, não é meus queridos leitores fantasma? O que estou fazendo não sei, só sei o que NÃO estou fazendo: dormindo! Eis que a minha namorada de todas as noites veio dar o ar de sua graça e me fazer insistir em ficar acordado. Todos nós a conhecemos, pois ela acaba na casa de todos nós uma noite que seja mais cedo ou mais tarde... Ainda preciso dizer seu nome? Acredito que não, vocês, meus leitores fantasma, são inteligentes o suficiente e sabem que este texto não é ininteligível, ao menos não o suficiente para que ninguém o entenda.

Sim, senhoras e senhores, eu tenho insônia. Sim, senhoras e senhores, quero me livrar dela! Não, senhoras e senhores, não me envergonho dela. A insônia me deu coragem o suficiente para vir aqui escrever este texto. Agora já são 3:47 e a minha TV está ligada na NET que não funciona no meu quarto, o ventilador está ligado apontado pro nada, estou de pijamas, com uma agenda eletrônica, uma lixa, o controle do meu DVD, três pilhas estragadas, fios, uma vela aromática, uma ampulheta, minha estátua de mármore de duas mulheres se beijando e meu telefone, todos me encarando em cima da minha mesa. Meus DVD’s também me encaram. Parecem que suplicam para que eu os coloque para rodar enquanto tento dormir. Pena que música não me ajuda a dormir, música me desperta e faz com que eu queria prestar atenção nos acordes, na letra, na melodia, em tudo. Portanto DVD musical está fora de cogitação! Poderia colocar o DVD do Cócegas para rolar, mas o DVD terminaria antes de eu pegar no sono, mesmo com todos os extras embutidos noite à fora. Hocus Pocus? Nem pensar! Ficaria prestando atenção no filme e aí ferraria com tudo! Se eu tivesse aqui comigo O Diabo Veste Prada com certeza não teria problemas. Ou se a NET funcionasse direito... Enfim, muitas coisas contribuiriam para que eu não tivesse essa insônia do cão, inclusive acordar cedo. São 3:52 e eu estou aqui divagando. Minha amiga Beth Gameiro me lembrou de uma receita que uma amiga em comum tem: leite quente! Seria tiro-e-queda comigo se eu gostasse de leite puro. Odeio leite puro. O cheiro me sufoca e o gosto de dá náuseas. Não, leite quente não rola. E se eu colocar chocolate aí que eu me ferro de vez! Não, não rola mesmo.

No primeiro texto sobre insônia eu falei que o meu problema para dormir era a cabeça vazia. Precisava pensar em algo, ter algum dilema. Bom, agora eu tenho estes dilemas, tenho pensamentos, tenho muitas coisas na cabeça. Mas o que eu preciso agora é de menos dor. Uma dor na coluna que me tira a paz. Insônia & Dor na Coluna, uma dupla que não combina, ou até combina, mas não a meu favor. 3:56, faltam 4 minutos para as 4 da manhã. Irônico não é? 4 pras 4, como dizem por aí. Odeio isso, sempre odiei. 4 pras 4; 5 pras 5, 5 pras 7; 15 pras 10! O que custa uma pessoa falar 03h56min? Tem algum problema? A palavra é longa demais? Aliás, a palavra não, a frase.

Alguma boa alma pode até chegar a mim e indicar uma leitura noturna, bom, desista! Eu leio toda a noite, o problema de ler agora é que o abajur do meu quarto está queimado, e não gosto de ficar no clarão da luz mais forte à toa. Gosto de ficar à meia-luz. Aliás, tenho saudades de ficar à meia-luz, acho que sempre produzi mais à meia-luz. De qualquer maneira vou concertar o abajur, mas não acho que vá me adiantar muita coisa. Hoje li dois artigos muito interessantes na revista que distribuem na Saraiva do shopping Morumbi (pelo qual sou apaixonado). Um sobre Sherlock Holmes, o personagem dos romances escoceses pelo qual sou fascinado. Virou filme, dirigido pelo Guy Ritchie, o ex da Madonna. O outro artigo era sobre Lula Queiroga, um grande compositor e um bom cantor, e um ótimo produtor. Ele produziu Qual Assunto que Mais lhe Interessa?, um dos melhores álbuns da Elba Ramalho e que ganhou o Grammy Latino 2008. Todos muito interessantes. Sem contar que ontem li um sobre a carreira de produtores, com entrevistas ótimas com Kassin, o Marco Mazzola e o caça-emos Rick Bonadio. São 4:03, na NET que não funciona direito ouço Alf – O E Teimoso. Até que eu gosto do Alf, consigo dar boas risadas com ele. Não gargalhadas, mas risadas gostosas e ingênuas, coisa que falta hoje na televisão. As piadas ultimamente são muito apelativas, não gosto disso, gosto de rir pela graça das coisas, não porque de repente alguém se mostrou numa saia justa por estar excitado.

4:05, como o tempo voa e eu não paro de escrever e divagar, escrever e divagar. Aliás, uma coisa que faço, e faço muito bem, é divagar. Divago noite afora, e falo, falo, falo para chegar a algum lugar, mas sem atingir ponto algum. Dizem que isso é, dos dois um: ou uma característica de um bom escritor, ou a visita inesperada do senhor Alzheimer. Fico em cima do muro, um pouco por cá um pouco pra lá.

Meus olhos já pesam, mas sei que se me deitar agora vou começar a divagar na minha cama. Vou falar sozinho, imaginar situações, imaginar textos, músicas, poemas, shows, etc e tal. 4:09 e acabo de mudar para a TV Cultura. Está passando Café Filosófico, um bando de pensadores excêntricos que discutem muitas vezes sobre o nada para ninguém, ou melhor, para uma platéia de pseudo-intelectuais que não deve entender patavinas do que está sendo dito. Este programa já foi muito melhor. Era bom quando intelectuais de verdade eram convidados, não um bando de supostos pensadores que não falam nada com nada para uma platéia de pessoas que fingem entender coisas das quais nunca ouviram falar. Lygia Fagundes Telles foi uma das convidadas mais espetaculares deste programa. Antonio Cícero foi outro. Ferreira Gullar foi mais um. Vejam, O Homem da Tarja Preta, um texto completamente desconexo onde o ator apresenta um espetáculo de vanguarda. Não que vanguarda não seja bom, mas, convenhamos, é vanguarda. 4:14 agora.

Algumas pessoas que lerem este texto com toda a certeza me acharão pretensioso, e é justamente essa a idéia. Mostrar a minha pretensão em escrever um texto em plena madrugada falando de nada a nada acreditando que alguém vai realmente se interessar em ler. Mas fazer o que? Sou pretensioso e sou demais, e não me envergonho disso pelo simples fato de que minha pretensão tem fundamentos. Acho que o Café Filosófico é gravado no Tom Jazz, parece pelo palco e pelo local. Adoro o Tom Jazz, apesar de ser caro pra caramba. Fui a três shows lá e estou pagando até hoje. Só não é mais caro que o Baretto, dentro do Hotel Fasano, porque não tem tanto cacife. Mas tentem assistir a uma temporada da Marina Lima, por exemplo, no Bar Baretto, você praticamente terá que vender suas calças. Pronto, se tem algo mais desinteressante que o Café Filosófico é o Sr. Brasil. Um senhor saudosista que lembra uma fase desconhecida da música brasileira. Algo importante para a cultura localizada, mas duvido que para a geral. Sem contar no tom do programa, que mais parece um A Praça é Nossa musical. Claro que há bons momentos como as participações de Elba Ramalho e Milton Nascimento. Um bom programa é o Provocações, que é apresentado por um cara que eu adoro, mas que me foge o nome agora. Agora no Café Filosófico uma mulher explicando o sentido de erotismo de acordo com a psicanálise do dicionário Aurélio.

4:20 e eu continuo aqui sem sono e morrendo de dor nas costas, aliás, na coluna, ali na região perto do cóccix. Mas se tem algo mais desinteressante que isso é estes programas de Fé a plena madrugada. Fico comovido com a fé que todos têm num mero programa. Sem contar a MTV que passa clipes especialmente ridículos. Filhos, existe uma coisa chamada MÚSICA BRASILEIRA DE QUALIDADE. Vão lamber o chão dos norte americanos e dos emos na puta que pariu. Engraçado que o dicionário eletrônico do meu Word não adiciona a palavra “puta”. Olhem que discriminação e que desconhecimento hipócrita. Puta, na mitologia romana, é uma deusa menor, deusa da agricultura. Segundo uma das versões, a etimologia do seu nome vem do latim, e o significado literal é poda. As festas que eram feitas em homenagem a essa deusa celebravam a poda das árvores por alguns dias e, durante estes dias, as sacerdotisas manifestavam-se, promovendo o bacanal, ou seja, se prostituindo. Vem daí o termo chulo como países de língua latina usam o termo “puta”. E eu repito esse nome quantas vezes me der na telha! Puta, puta, puta, puta, puta, puta, puta, puuuuuuuuuuuutaaaaaaaaa!!!!!!!! Isso é pra, simplesmente, acabar com essa hipocrisia social que vivemos mergulhados. Chega disso! Puta também é gente, e mais, puta é uma deusa, portanto vamos parar de besteira. E, por falar em besteira, nunca ouvi tanta besteira ininteligível e impossível de digerir como nesse Café Filosófico. Um ator de vanguarda fazendo uma esquete de vanguarda. Detesto. 4:31 e ainda estou aqui. Isso já, já, vira um livro. È, e por que não? Quem sabe? “Relatos de Uma Noite de Verão – A Saga”, pode muito bem ser um bom livro, por que não? Vou pensar mais na idéia. Ah, pronto, começo a ter fome agora. Só o que me vem a cabeça agora de comida é miojo. Mas já escovei os dentes, então vou agüentar até de manhã. Isso sem contar que preciso acordar cedo. 9:30 quero me levantar da cama. Pra que? Não faço idéia, mas quero. Ah, a TV Cultura exibindo o “Hino Nacional”, vou confessar-lhes uma coisa: nunca gostei desse hino. Nunca houve uma linha de verdade nele, completamente romântico, idealizado. Eu gostaria que o Brasil fosse grande assim, fosse toda essa idealização que muitos nos passam, mas não passa de grandes mentiras. O pior de tudo é a voz da pessoa que canta esse hino. Uma voz hipócrita que não acredita numa linha do que está cantando. Eu não canto, também não acredito, então, no máximo, dublo. O dicionário eletrônico não aceita “puta”, mas aceita “puuuuuuuuuuuutaaaaaaaaa”, vai entender a hipocrisia digital.

Bom, acho que já falei demais, minha TV acabou de desligar e levei um susto tremendo. E se ela tivesse queimado? Me fudi! Mas lembrei que tinha a programado para se auto desligar. Engraçado, meu dicionário também aceita “fudi”, por que não “puta”? Fica a pergunta. Ah, eu gostaria tanto de contar dos desvarios que aconteceram comigo hoje, mas vai começar Tecendo o Saber que, apesar de ridículo, é uma boa distração, além do que minha coluna clama pela cama, pois essa cadeira está acabando de vez com ela.

Good night, people. Até a próxima, até a volta e até um próximo relato de uma noite de verão, sim, porque haverão outros.

Bye.


BC.


PS: Puta, puta, puta – só para irritar meu dicionário!

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