Estado Gasoso é peça fundamental para a noite paulista

Opinião de peça
Título: Estado Gasoso
Elenco: Cia de Artes Monteiro Lobato: Adilson Júnior, Fabiana Viela, Isabel Tropardi, Jacqueline Martins, Jéferson Cruz, Luciana Silva, Mário José Cutolo, Marlene Oliveira, Patrícia Weiss, Rafaella Farias, Sandro Linhares
Local: Auditório Ilza Cintra - Educandário Allan Kardec, São Paulo (SP)
Data: 02 de agosto (em cartaz: 09, 16, 23 e 30 de agosto e 06 de setembro)
Cotação: ***


França - século XVII - 1651, São Paulo - século XX - 1944. São datas, períodos e locais distintos, mas um serve de guincho para o outro. E foi no guincho do tempo que a Cia. das Artes Monteiro Lobato conseguiu mais uma vez, conquistou um público assiduo por novidades com competência e muito bom humor.
Estado Gasoso não é exatamente uma peça que você pode ver em locais como o Teatro Raul Cortez ou o Teatro João Caetano, mas a atmosfera sedutora e jovial do Auditório Ilza Cintra, localizado dentro do Educandário Allan Kardec, caiu como uma luva para a apresentação.
Dividido em dois atos, a peça retratou de modo linear e bem-humorado a anarquia do reinado de Luís XIV, na França em 1651, e cenas da vida do escritor Monteiro Lobato que, de cena em cena, é estimulado a acreditar na vida eterna, através do espiritismo (claro!).

Não por acaso, o primeiro ato inicia-se de forma visceral e pouco formal, com um arlequim apresentando o espetáculo na abertura.
Com uma trilha sonora realmente eclética (e até fora de hora às vezes) abrigando canções de Madonna, Swing Soul, entre outros a peça ganhou força com o seguir das canções que, de início, deram a idéia de um ato frio e sem graça.
Retratando anarquias, traições, brigas e corrupções dentro do reinado de Luís, a peça ganha ponto por não ser parcialmente fiel à época. Com vocabulário até (muito) avançado para a época (aliás, para as duas épocas), não se assuste se ouvir palavras como "mano", "bicho" ou "piriguetti" (palavra hit do momento na boca dos jovens). Ganha ponto pela ousadia.
Entre cenas que se dividiam por um nexo pequeno, a peça conseguiu passar a primeira mensagem, dando vazão ao segundo ato que, queiram ou não, é uma continuação muito bem feita do primeiro ato. Ao retratar a descrença de Monteiro Lobato o elenco se envolve de corpo e alma dentro da vida do escritor do Sítio do Pica-Pau Amarelo. O segundo ato foi envolto pela áura espírita. Com a tão famosa "brincadeira do copo" a peça uniu um ato ao outro sem nenhum tipo de problema ao evocar o espírito do prisioneiro morto no reinado de Luís XIV. Aliás, por falar em Luís XIV, só um comentário: o rei era casado com Marie, mas tinha duas amantes, as quais ganharam interpretação mais que fabulosa por parte do (maravilhoso) elenco feminino que roubou a atenção da noite.

Entre alguns erros, estes até perdoáveis por se tratar de uma estréia, o elenco manteve-se bem atento, com exceção de alguns atores que deixaram o nervosismo transparescer para a platéia, mas nada que tirasse o brilho do espetáculo que foi encerrado deixando uma belíssima mensagem, dando continuidade ao sucesso do espetáculo anterior, o bem sucedido Família pra Que?.

Sim, Estado Gasoso é peça fundamental para encerrar bem uma bela noite paulista.

A peça estará em cartaz até dia 06 de setembro de 2008 no Adutirório Ilza Cintra localizado dentro do Educandário Allan Kardec
na avenida Luís Arrobas Martins, número 217. Ingressos à venda no mesmo endereço, dentro do Centro Espírita Casa de Fabiano, localizado exatamente ao lado do colégio. Os ingressos custam R$ 5,00 e tem censura livre. Espetáculo imperdível!