domingo, 12 de junho de 2011

Noel Rosa: a dignidade do samba nos palcos


“Uma delícia de musical, tô com vontade de sambar!” dizia uma moça na plateia ao fim do espetáculo Noel Rosa: O Poeta, o Músico, Cronista de uma Época. E realmente, a vontade parecia ecoar por todo o teatro. A biografia musical do “poeta da Vila” cumpre curta temporada no Teatro Brigadeiro, em São Paulo. Com texto e direção de Cybele Gianni o espetáculo conta essencialmente a vida de Noel Rosa baseada em suas canções. São ao todo 42 canções passando por clássicos como “Com que Roupa?”, “Feitio de Oração”, “Palpite Infeliz” e “Fita Amarela” até temas mais obscuros da obra do autor, como “Quando o Samba Acabou” e “Seja Breve”.

O elenco de 13 atores mais os 6 músicos que não deixam o palco em nenhum momento compõem um jogo cênico bonito, principalmente ao interpretarem (bem) temas de Noel. Nomes como Francisco Alves, Mário Lago, Aracy de Almeida, Marília Baptista, Ismael Silva, Wilson Baptista, Orestes Barbosa e Braguinha foram representados com dignidade em cena. O texto de Cybele Gianni procurava entrelaçar fatos da vida de Noel com suas canções, usando de um humor tipicamente malandro e, de fato, gostoso de se ouvir. O elenco defendeu a obra de Noel com profissionalismo, nenhum dos atores cantava mal, destaque inclusive para Glau Gurgel que deu vida ao próprio “poeta da Vila”. O ator transformou Noel numa personagem, criando um malandro facilmente adorável, cafajeste, porém adorável. Destaque também para Áurea Giovanni, que deu vida a Ceci, grande amor da vida de Noel; e Danilo Andrade, que se destacou ao viver Mário Lago e Francisco Alves. Cybele Gianni também apareceu muito bem em cena, mesmo tendo altos e baixos. Quando interpretava a mãe preocupada e zelosa de Noel a atriz conseguia momentos de boa emoção, o que já não era facilmente perceptível em sua interpretação de, por exemplo, Julinha, a cantora de cabaré decadente. Cybele não tem uma voz talhada para o canto. Mas se houve um pecado em Noel Rosa foi o cenário. A perfeição do botequim criado para abrigar os 6 músicos do Grupo JB Samba não refletia, por exemplo, nos cenários que construíram um cabaré e um pequeno apartamento onde se instalava Ceci. Os cenários se cobriam e chegava a ser impossível enxergar os atores que se sentavam no grande sofá por trás do cenário do cabaré (que vale ressaltar, continha a mais bela iluminação do espetáculo). Mas apenas um detalhe facilmente corrigível e insignificante perto da dignidade da retratação da vida de um dos poetas mais importantes da história do samba.

Noel Rosa: O Poeta, o Músico, Cronista de uma Época é um espetáculo dignamente delicioso, mostrando a melhor xepa do verdadeiro samba. Uma delícia de Noel Rosa.

Um comentário:

priscila toller disse...

Gosto muito do Noel. Parabéns pelo texto, ficou otimo.