quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Vanessa expõe alegrias singelas sem urgências.


Opinião de Cd
Título: Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias
Artista: Vanessa da Mata
Gravadora: Sony Music
Cotação: **** 1/2

Quando foi descoberta em 1999 por Maria Bethânia como (boa) compositora por conta da canção “A Força que Nunca Seca” (parceria sua com Chico César), Vanessa da Mata já mostrava que gostava de ser simples e alegre. Quando surgiu como cantora no mercado fonográfico em 2002 com o hit “Não me Deixe Só” e em 2004 com o estouro de sua regravação de “Nossa Canção” e do remix de “Ai, Ai, Ai” Vanessa já se mostrava mais urgente, procurando um lugar ao sol. E foi essa urgência que marcou seus (bons) dois primeiros álbuns: Vanessa da Mata e Essa Boneca tem Manual. Foi em 2007 com seu terceiro álbum, Sim, que Vanessa pisou no freio e mostrou-se mais singela e menos imediata. Neste seu novo álbum, Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias, Vanessa consegue se expor com maior liberdade e sem nenhuma urgência. No álbum não há nenhum hit facilmente identificável como “Amado” ou “Boa Sorte” (os dois mega-hits de seu último álbum), mas todas as canções parecem ter proporções radiofônicas pelos refrões chiclete e pelos arranjos curiosos. Jogo de marketing? Não. Vanessa da Mata é assim. Simples, singela e de fácil assimilação. Mesmo sem nenhum hit radiofônico facilmente identificável, o álbum é aberto com “O Tal Casal”, a boa canção escolhida como single para puxar o álbum nas rádios. A canção, aliás, já tem boa rotação nas rádios FM’s. Vanessa trata de suas alegrias nesse novo álbum, e elas se mostram bem simples e singelas, é o caso de temas como “Meu Aniversário” (canção que faz menção – na letra e no arranjo – a Clara Nunes e Jorge Bem Jor) e na faixa-título “Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias”, um dos destaques do álbum. Vanessa é uma compositora que já apareceu madura e foi melhorando ao passar do tempo. Prova disso é que assina, sozinha, 10 das 12 faixas do álbum, fazendo desde uma crítica bem humorada ao consumismo (“Bolsa de Grife”) até citação-crítica a sua classe feminina (na letra de “Fiu Fiu”). Fiel ao sentimento que faz o mundo girar, Vanessa fala de amor das mais diversas formas, mas sem cair na mesmice, como é o caso da balada “Te Amo” que, além da bela letra, conta com arranjo que abriga grooves eletrônicos e foge da esperada balada açucarada. Aliás, os arranjos do álbum são também grande surpresa. Vanessa assina os arranjos acompanhada de nomes de peso no flerte com a música eletrônica: Kassin, Gustavo Ruiz, Stephan San Juan e Donatinho. Ainda falando sobre o amor, Vanessa consegue sonhar (como na já citada “O Tal Casal”), enfurecer-se com um relacionamento que não vai pra frente (“Vê se Fica Bem”) e desmistificar o sentimento (“Moro Longe”). Nestas suas singelas alegrias, Vanessa mostra-se alegre também ao incorporar de vez parceiros novos a seu trabalho. A cantora faz a ligação “Brasil-África” em “Vá”, um dos destaques do álbum e bela parceria com Lokua Kanza. Outro momento de simples felicidade, “Quando Amanhecer” é a extensão da parceria da cantora com Gilberto Gil, iniciada com a levada “Lá Vem Ela”, lançada por Gil neste ano de 2010 em seu álbum junino Fé na Festa. “Quando Amanhecer” une Vanessa a Gil não apenas na composição, mas nas vozes também. O compositor botou sua voz e seu violão a trabalho da faixa, dividindo espaço apenas com a voz de Vanessa e com o vibrafone de Arthur Dutra, que pega pequenos cristais da melodia. Enfim, Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias mostra Vanessa em uma fase mais singela e sem pressões, prazos, pressas ou urgências. São as simples alegrias de uma singela Vanessa.

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