sábado, 31 de julho de 2010

Previsível, Roberta canta Roque em reza


Opinião de Cd
Título: Quando o Canto é Reza - Cançõesde Roque Ferreira
Artista: Roberta Sá e Trio Madeira Brasil
Gravadora: Universal Music
Cotação: ***1/2

Projeto idealizado por Roberta Sá em 2009, o projeto onde a cantora interpreta canções do compositor baiano Roque Ferreira ganhou a forma de disco neste mês de julho de 2010. Recém lançado no mercado, Quando o Canto é Reza é um bom álbum em que Roberta se escora bem na obra do ótimo compositor auxiliada pelo grupo Trio Madeira Brasil. O álbum (que se suporta no universo do samba mais buliçoso, que adorna os álbuns de Roberta) é, em um tudo, previsível, mas nem por isso deixa de ser belo.

“Mandingo” abre o projeto e mostra logo de cara que Roberta não só é uma ótima sambista como também se mantém como uma das melhores cantoras de sua geração. “Chita Fina” dá continuidade ao tom alegre e buliçoso da primeira canção. O primeiro grande momento do álbum é em “Zambiapungo”, numa bela letra adornada por um arranjo sóbrio e envolvente. A canção seguinte, o coco “Cocada”, apesar de boa soa melhor ao vivo. No álbum a música acabou por perder o pique contente das apresentações ao vivo que antecederam o show. Roque é um ótimo compositor (tanto que transitou com força nos dois álbuns lançados por Maria Bethânia em 2009) e talvez por isso o álbum, que peca pelos arranjos quase sempre parecidos, não acaba caindo na mesmice. Prova disso são as letras inspiradíssimas de “Água da Minha Sede”, “Orixá de Frente” e “Água Doce” – esta última com um tom mais lento que beira às cantigas de roda. Foi também de “Água Doce” que Roberta retirou o título do álbum, Quando o Canto é Reza, produzido por seu marido, o cantor e compositor Pedro Luís. “Menino” – o ijexá inspirado – se destaca entre os grandes momentos do álbum pelo tom leve que vai ganhando peso ao compasso da canção. O carioca Moyseis Marques comparece bem na roda de samba armada em “Tô Fora”. A chula “Xirê” não consegue transpor toda a beleza apresentada no show, mas cumpre bem o papel de envolver o ouvinte em seu refrão pegajoso e delicioso. O samba “Marejada” também não é um dos grandes momentos do álbum, ma so mantém na linha da coerência. Talvez esse seja o grande trunfo de Roberta: ela é coerente. Mas também gosta de explorar as surpresas, para tanto gravou “A Mão do Amor”, a canção lançada em forma de vinheta por Maria Bethânia em seu álbum Tua (2009) ressurge em sua versão completa, e se destaca entre os grandes momentos do álbum. “Festejo” encerra o disco de forma sóbria e, como já citado, coerente. Um bom momento.

Enfim, Quando o Canto é Reza, por mais que seja um álbum previsível, tem tudo para ser um dos bons destaques na (ótima) discografia de Roberta. Vale à pena ouvir.


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