terça-feira, 13 de julho de 2010

Juventude aflora com delicadeza em musical


Opinião de musical
Título: O Despertar da Primavera
Elenco: Debora Olivieri, Eduardo Semerijan, Malu Rodrigues e grande elenco
Direção e adaptação de texto: Charles Möller
Direção musical e letras: Cláudio Botelho
Local: Teatro do Shopping Frei Caneca - São Paulo (SP)
Data: 12 de julho de 2010 (em cartaz até agosto de 2010)
Cotação: **** 1/2

Mais um musical com a assinatura da dupla Möller & Botelho, O Despertar da Primavera voltou a São Paulo para cumprir curta temporada no Teatro do Shopping Frei Caneca. O musical (que estreou no Rio de Janeiro) aportou originalmente em São Paulo no início de 2010 para temporada no Teatro Sérgio Cardoso teve de voltar aos palcos devido ao grande sucesso e às mobilizações feitas na internet. Valeu a volta.

Espetáculo criado originalmente por Steven Sater e Duncan Sheik, baseados na obra de Frank Wedekind, O Despertar da Primavera conta, em sua montagem brasileira, com assinatura própria de Charles Möller, tanto na direção quanto no texto. Cláudio Botelho também consegue, mais uma vez, imprimir personalidade nas canções apresentadas, fazendo com que, nem de longe, pareçam versões. O elenco majoritariamente jovem e sedutor também contou (bons) pontos para que o espetáculo crescesse (mesmo que, na apresentação de 12 de julho, o elenco oficial não estivesse presente, contando com – bons – substitutos).

De temática forte, o musical conta as histórias, dúvidas e mazelas de jovens no auge da puberdade, todos entre 16 e 25 anos. Um grupo de jovens que vivem dentro de uma ditadura politicamente correta e que buscam respostas para as mudanças do corpo e dos prazeres da vida. Os temas são tratados como devem: com verdade! Möller não poupa o público, e deixa que tudo seja explicito, desde a masturbação de uma das personagens até a paixão explicita por outro pela professora de piano. Todas as dúvidas da adolescência, tanto de homens quanto de mulheres, estão ali no palco, para serem respondidas. Botelho também não mede palavras ao expressar a verdade nas canções, que são o grande ponto alto do espetáculo. Talvez seja estranho ouvir vozes ainda em formação num musical, mas é exatamente essa a graça. Desde o início com “Mamãe, me Explica” até a derradeira “Canção de um Verão”, é tudo explicito.

A história de um garoto que deixou de acreditar nos valores de sua época e que entende de tudo o que não era falado referente ao sexo é envolvente, assim como a história do garoto que não consegue passar de ano e, cheio de dilemas, decide se matar. A garota que fica grávida sem entender o que é o sexo ou o que é a vida em si também é encantadora. Mesmo que a história conte com um final triste, o musical nunca deixa a peteca cair em seus dois atos. Os atos são divididos entre um tipo de “antes e depois da descoberta do sexo”, visto que o primeiro ato termina quando o ato de sexo entre os dois jovens principais do espetáculo acontece. Uma cena bonita e poética, que teve de ser alterada visto que a atriz Malu Rodrigues agora é impedida de mostrar o seio esquerdo na peça graças a uma decisão do Ministério da Justiça. Censura pouca é bobagem!

Entre as cenas de destaque, está, no segundo ato, o suicídio de Moritz. Ponto para o elenco (muito) bem preparado(que soube driblar também os problemas de som do teatro). Outro tema recorrente na juventude, o homossexualismo, também é tratado entre duas personagens que descobrem seu próprio sexo. Outra grande cena, que mostra que o teatro não tem fronteiras. A pedofilia, outro tema também importante, foi abordado com a verdade que deve existir. Por essas e outras Charles Möller se destaca no mundo teatral.

Último grande ponto, mas nem por isso o menos importante (pelo contrário, talvez até o mais importante), as canções de Cláudio Botelho deram uma áurea viva ao musical. Destaque para temas como “Mamãe, me Explica”, “Tudo que é Sagrado”, “Nessa Merda de Vida”, “Venha”, “Um Escuro sem Fim”, “A Carta”, “Acredito”, “O Corpo é o Culpado”, “Não tem Tristeza e Vento Triste”, “O Que Ficou pra Trás”, “Se Fodeu”, “Velhos Conhecidos” (numa das cenas mais belas do espetáculo), e “Canção de um Verão”. Destaque também para Eduardo Semerjian e Debora Olivieri, que se desdobram em 9 papéis diferentes. Cada um a seu próprio modo.

O espetáculo tem um encerramento apoteótico com todo o elenco numa reprise arrepiante de “Se Fodeu”, com iluminação e cenário ímpares.

Enfim, O Despertar da Primavera faz sim jus ao grande sucesso que o trouxe de volta a cartaz num ato que, ultimamente, é inédito no Brasil. A força do teatro e da grife Möller & Botelho. Valeu.


2 comentários:

Lucas disse...

Teatro Sérgio Cardoso

Bruno Cavalcanti disse...

Obrigado pela correção, Lucas.