domingo, 19 de abril de 2009

Vale à pena ouvir de novo: Camaleônico, Ney se mostra camerístico em Cd e DVD


Opinião de Cd/ DVD
Título: Canto em Qualquer Canto
Artista: Ney Matogrosso
Gravadora: Universal Music
Cotação: **** 1/2
Ano de lançamento: 2006

Na roda viva de lançamentos no formato de Cd e DVD ao vivo, Canto em Qualquer Canto é, sem dúvida, o maior destaque de todos. No auge da boa forma vocal e artística, Ney Matogrosso mostra que é um camaleão. Sua estrutura camaleônica é tão bem formada, que o cantor consegue passar sem nenhum problema da aura rockeira e indie do disco Vagabundo (2004 - dividido por Ney com a banda Pedro Luís e A Parede) para um universo totalmente camerístico e clássico, como é o caso deste novo disco.
Canto em Qualquer Canto não é exatamente o registro de um show ou um disco inédito, já que, a rigor, o projeto rebobina canções já gravadas pelo cantor anos atrás, mas com novo arranjo. Há uma ou outra regravação inédita na voz de Ney. O disco não é calcado por mega hits da carreira do camaleão, o foco são os belos lados B. Extraído do especial homônimo registrado no Teatro do Sesc Pinheiros em 08 de dezembro de 2004 para o Canal Brasil (NET/ SKY 66), tanto Cd quanto DVD contêm o mesmo número de canções.
O disco é composto apenas pela bela e límpida voz de Ney (que ao passar do tempo apenas ganhou mais brilho) e pelas cordas de Ricardo Silveira, Pedro Jóia, Marcello Gonçalves e Zé Paulo Becker.
O Cd/ DVD é aberto com
"Canto em Qualquer Canto" (a canção de Ná Ozzeti e Itamar Assumpção ganha novo viço na voz de Ney). O roteiro rebobina canções como "Ardente" (Joyce) gravada pelo cantor em 1979 no disco Seu Tipo, mas com um arranjo não tão envolvente. Canções como "Amendoim Torradinho", "Bamboleô" e "Uma Canção por Acaso" demonstram toda a visceralidade e o talento de Ney ao transitar pelo repertório de Ângela Maria, passando para um samba buliçoso da década de 40 e acabando com um chorinho inédito de Pedro Jóia. Ney mostra também a beleza estrangeira com "Dos Cruces", um dos momentos mais belos de um projeto repleto de acertos. Se há algum erro passa completamente desapercebido, já que o fino repertório abre espaço para outra boa inédita de Pedro Jóia ("Duas Nuvens"), canções da época do grupo Secos & Molhados ("Bandoleiro" e "O Doce e o Amargo") revisitadas por Ney sem a mesma áurea rockeira do grupo. Há espaço para outro sucesso de Ângela Maria ("Lábios de Mel" registrada por Ney em 1994 no disco Estava Escrito, onde revive repertório de Ângela Maria) e bela canção de Chico Buarque ("Tanto Amar") registrada por Ney originalmente em 1982 em seu disco Matogrosso. Cd e DVD são fechados de modo otimista, com os versos "vida que vale à pena" presentes na bela canção "Já te Falei", a parceiria de Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Dadi Carvalho gravada por Rita Lee em 2003 em seu disco Balacobaco.
Camaleônico, Ney se mostra camerístico e, melhor, um artista em belo trabalho.

Um comentário:

Adriano Sorona disse...

Acho que o Ney sabe se reinventar de uma forma tão bacana, ele é o melhor cantor do Brasil, isso é inegável! Esse disco dele é tudo! Muito boa a crítica Bruno.