quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A Vida Alheia - mais interessante que a sua!!!!


Quando estreou em abril de 2010 A Vida Alheia dividiu opiniões. Uma parcela do público classificou a série como “sem graça” e “desinteressante”; enquanto isso uma outra parcela do mesmo público classificou a série como “uma das séries mais ousadas da Globo” e “um ótimo trabalho interessante e sem pretensões”. Pois é, o tempo passou e provou que essa segunda parcela do público tinha razão. A Vida Alheia se tornou um dos grandes marcos na programação da rede Globo, principalmente neste ano de 2010. Prova disso é que a meta da série era atingir os 20 pontos no ibope e, em sua grande maioria, os capítulos atingiram 17 pontos (alguns beirando, inclusive ao 21). Vale lembrar que cada ponto no ibope equivale a aproximadamente 60 mil televisores ligados, portanto façamos as contas. A Vida Alheia foi sim uma das séries mais ousadas e revigorantes da rede Globo que, depois de muitos erros, finalmente acertou na mosca! A história contava os bastidores de uma revista de fofocas intitulada A Vida Alheia. A editora da revista Alberta Peçanha (Cláudia Jimenez) e a dona da revista Catarina Faissol (Marília Pêra) não tinham escrúpulos e faziam de tudo para conseguir um bom escândalo que estampasse a capa da revista. Quem corria atrás desses grandes furos eram a repórter Manuela (Danielle Winits) e o fotógrafo Lírio (Paulo Vilhena) que, juntos, também faziam de tudo para conseguir um bom furo para a revista. Manuela sempre foi a mais ambiciosa de toda a série, no entanto nunca conseguiu atingir o status de “preferida” junto à Alberta, que sempre fez questão de ressaltar que “é mais fácil elogiar a mediocridade. Essa não oferece perigo”. A série foi escrita por Miguel Falabella e talvez por isso uma grande parcela do público tenha se decepcionado. O multimídia acabara de sair de um projeto de humor escachado, o ótimo Toma Lá, Dá Cá e todos esperavam que A Vida Alheia repetisse a fórmula de riso fácil e escracho. No entanto Miguel seguiu um outro caminho e utilizou uma fórmula diferente, o que causou estranhamento. A Vida Alheia podia arrancar sorrisos discretos ou até mesmo um riso alto se a sutil piada fosse entendida, ou seja, o pensamento do público deveria ser rápido o suficiente para ligar a piada à situação. Talvez por isso a grande massa não tenha se identificado com a série. Aliás, outro ponto que pode ter contado para que o grande público não se interessasse eram as citações. A cada episódio havia uma citação que remetia a tudo. Psicanálise, mitologia, divas francesas, cinema, teatro dentre tantos outros pontos. Todos recorrentes na vida de Miguel, mas, infelizmente, ausente na maioria dos trabalhos apresentados na TV. A Vida Alheia foi marco, afinal de contas qual outro programa citaria numa única cena uma frase de Nietzsche e outra de Oscar Wilde estabelecendo uma relação psicológica que remete à psicanálise de Freud? O único programa que se aproxima de tal erudição é Separação?! Da minha amadíssima Fernanda Young, mas desse trato num próximo capítulo. A série dividiu opiniões não só entre o público, mas também entre a crítica. Enquanto a pseudo-colunista e ensaio de jornalista Fabíola Reipert criticava a abordagem de Miguel para com as revistas de fofoca (vide que ela é uma das que contribuem para que esse mundo das fofocas gire) enquanto os jornalistas Alê Rocha e Patrícia Kogut mostraram-se surpreendidos e fascinados pelo tom áspero da série, onde Miguel destilava um veneno bem humorado, crítico e muito respeitoso. A série também foi responsável por revelar novos talentos, como Kim Kamberlly (que deu vida à Paula, uma adolescente rebelde, estudante de teatro e filha de Alberta Peçanha), Karin Roepke (nome respeitado no mundo dos musicais, trabalhou com Miguel em Os Produtores e Hairspray e deu vida à invejosa Olívia), Edgar Bustamante (que também trabalhou com Miguel em Hairspray e deu vida ao fotógrafo Chico) e Luciano Borges (que deu vida ao engraçado Pardal). A série também foi responsável por reafirmar grandes talentos como Sylvia Massari (que viveu a colunista de moda Solange), Carlos Gregório (que viveu o marido frustrado de Catarina, Júlio) e Sandro Christopher (que deu vida ao advogado Duran). Além, claro, de fazer com que a imagem de Cláudia Jimenez voltasse ao imaginário popular como uma atriz mais visceral e menos escrachada. E, lógico, além de contar com participações especialíssimas como as de Leona Cavalli, Betty Lago, Eduardo Dusek, Juliana Knust, Daniele Valente, Bia Seidl, Luís Melo, Stella Miranda, Arlete Salles, Chica Xavier, Patrícia Bueno, Nathália Thimberg dentre outros grandes nomes. A série foi muito bem construída e permitiu que Danielle Winits e Paulo Vilhena construíssem bem suas personagens, fugindo do caricato que pairou a carreira de ambos durante todos esses anos. A série contou com o total de 20 episódios e especula-se a possibilidade de uma segunda temporada. O último episódio foi exibido quinta-feira passada (26 de agosto) e se consolidou como um dos melhores episódios da série. A adolescente Paula foi presa ao matar o namorado Tom (Guilherme Trajano), o que levou sua mãe, Alberta Peçanha a ser alvo da mídia, claro que por pouco tempo. O último episódio também mostrou como a ganância pode nos levar longe... longe até demais. A repórter Manuela ansiando em cumprir a ordem da patroa Alberta acabou por provocar uma tragédia, o que custou a vida de um homem. O ministério público processara a revista o que levou Catarina a demitir a repórter. O enredo contou também com a surpreendente morte de Marlene (Andréa Dantas), atropelada pela então amante do marido, Chico. A série encerrou com chave de ouro mostrando uma realidade impactante com cenas extremamente bem cuidadas e bem feitas. Todos estiveram numa sintonia que ultrapassou todas as expectativas do que viria a ser este último episódio. Os destaques foram para as cenas da morte da Marlene, a visita de Alberta à filha Paula na cadeia (a cena mais linda de toda a série) e a cena da demissão da Manuela. Danielle e Marília estiveram numa sintonia tão completa que fez com que a cena fosse um dos destaques da temporada inteira (ponto para a diretora Cininha de Paula, que soube muito bem como levar não só esta cena como a série toda numa harmonia rara). Enfim, em apenas 4 meses, A Vida Alheia mostrou a que veio, destacando-se como um dos trabalhos mais interessantes de Miguel Falabella nos últimos tempos e se destacando, ao lado da série A Cura, como o projeto mais ousado da Globo neste ano de 2010 até então. Valeu (e como!). A Vida Alheia foi mais interessante do que a de todos nós. Para quem não viu vale à pena ver o último episódio e todos os outros! Eis:

A Vida Alheia – Abandonos

Parte 1:


Parte 2:


Parte 3:


Parte 4:


Parte 5:


Parte 6:

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