domingo, 26 de setembro de 2010

Balacobaco X 3001 - Uma analogia.


Nos anos de 2000 e 2003 Rita Lee lançou aqueles que se destacariam entre os melhores álbuns de sua carreira desde os anos 80. 3001 (2000) e Balacobaco (2003) são discos de canções inéditas premiadíssimos (tanto que o primeiro ganhou o Grammy Latino de melhor álbum de rock). Os álbuns são tão bons que nem sequer os críticos conseguem te ruma opinião unânime. Alguns dizem que 3001 é mais visceral, mais pesado, mais Rita Lee; Outros dizem que Balacobaco é mais debochado e mostra uma faceta de uma Rita caseira e de composições leves (como é de praxe). A produção de Roberto de Carvalho é impecável em ambos os álbuns. A arte gráfica é impecável em ambos os álbuns. As gravadoras (Universal Music e Som Livre) fizeram uma ótima divulgação em ambos os álbuns (tanto que os dois tiveram canções como tema de novela – “Erva Venenosa”, do 3001, foi tema de Um Anjo Caiu do Céu, enquanto “Amor e Sexo”, do Balacobaco, foi tema de Celebridade e “Tudo Vira Bosta” foi tema de Senhora do Destino. Duas das três canções (“Amor e Sexo” e “Erva Venenosa”) se tornaram grandes hits da carreira de Rita, que podem não competir com “Ovelha Negra”, “Lança Perfume” ou “Mania de Você”, mas bate bem de frente com “Mamãe Natureza”, “Saúde”, “Todas as Mulheres do Mundo” e “Obrigado Não”.

Enfim, eu também não tenho um favorito. Cada qual tem seu “algo mais” que me puxa para ouvir, portanto decidi fazer uma relação entre as 12 faixas de cada um (ambos combinam até no número de faixas). E vamos lá!


1- Amor e Sexo (Balacobaco)/ 1- 3001 (3001)


Uma balada e um rock com um “q” progresssista-pop-moderno. “Amor e Sexo” é uma parceria de Rita, Roberto e Arnaldo Jabor e faz uma análise minuciosa de duas das coisas mais importantes num relacionamento: amor e sexo. A melodia é chiclete e a letra é deliciosa (apesar de não ser facilmente decorável). Um hit radiofônico certeiro tema de uma das melhores novelas da década: Celebridade. Já “3001” é uma parceria de Rita com Roberto e o parceiro tropicalista Tom Zé. A canção é mais complexa e a melodia rock-eletrônica é de difícil assimilação. A faixa é ótima, mas não cairia no gosto do grande público.

Ponto pro Balacobaco.


2- A Fulana (Balacobaco)/ 2- 2001 (3001)


Uma balada mais dançante e uma regravação de um antigo sucesso eletronizado. “A Fulana” é uma parceria da dupla Lee & Carvalho com uma letra debochada e divertida, que conta a historinha de um relacionamento que não deu certo, mas que ela, a traída, saiu por cima. Já “2001” é um antigo hit d’Os Mutantes, mais uma parceria de Rita com o amigo tropicalista Tom Zé. Um antigo rock ruralista que se tornou um rock eletrônico delicioso, com um refrão chiclete e uma sonoridade underground. Ou seja, agrada diversos gostos.

Ponto pro 3001.


3- As Mina de Sampa (Balacobaco)/ 3- Você Vem (3001)


Dois rocks maravilhosos, meus favoritos. “As Minas de Sampa” é um rock delicioso, uma homenagem às paulistanas e um deboche de Rita para com ela mesma, típica menina paulistana. Um rock de harmonia chiclete e refrão idem. Bárbaro. Já “Você Vem” (3001) é um rock de letra maravilhosa e deliciosa e com um arranjo punk. O refrão também é chiclete sem cair no lugar comum.

Ponto para ambos.


4- Copacabana Boy (Balacobaco)/ 4- Erva Venenosa (3001)


Uma balada e um ritmo indescritivelmente delicioso. “Copacabana Boy” é outra parceria da dupla Lee & Carvalho, com uma belíssima letra criada por Rita para homenagear Roberto (seu marido e parceiro carioquíssimo). A melodia criada por Roberto também não fica por menos, é uma das faixas mais belas do álbum. Já “Erva Venenosa” é um regravação de Rita para um hit da década de 60 e 80 mas que, na voz de Rita, ganhou proporções bem maiores. É uma batida de festa com pitadas eletrônicas e roqueiras. Uma letra chiclete e gostosa, enfim... Um hit certo.

Ponto pra ambos.


5- Balacobaco (Balacobaco)/ 5- Mentiras (3001)


Uma levada eletrônica e um rock-balada. “Balacobaco” é mais uma parceria de Rita e Roberto. Uma das canções mais deliciosas do álbum, que conta a história de uma empregada que leva a vida difícil da classe média. Difícil, porém divertida. Não é um hit, pois não é radiofônica, assim como a deliciosa levada pop-eletrônica criada por Roberto que, apesar de deliciosa, não é tão chiclete. Já “Mentiras” é uma ótima composição de Roberto, que mostra que sabe fazer letra (mesmo que mediana, se comparada às outras letras do álbum). No entanto a canção não é tão envolvente e seria facilmente descartada do álbum.

Ponto pro Balacobaco.


6- Já te Falei (Balacobaco)/ 6- Rebeldade (3001)


Uma balada tribalista e um rock “mãe-e-filho”. “Já te Falei” é um presente dos tribalistas Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte e Dadi Carvalho para Rita. Uma melodia deliciosa e chiclete e uma letra viva e gostosa, um hit fácil se bem trabalhado. Já “Rebeldade” é uma canção ótima, um rock pesado e de letra interessantíssima, não é tão palatável, mas é interessante. Uma parceria de Rita com o filho, o músico Beto Lee. No entanto, não é uma canção tão deliciosa e irresistível quanto “Já te Falei”.

Ponto pro Balacobaco.


7- Nave Terra (Balacobaco)/ Pagu (3001)


Uma “oração progressista” e um blues-pop. “Nave Terra” é uma faixa interessante, parceria Lee & Carvalho, com uma melodia mais interessante que a letra em si (que é ótima). É um tijolo menor da casa Balacobaco. Já “Pagu” é uma das melhores (se não a melhor) faixa(s) de 3001. Uma parceria inédita de Rita com Zélia Duncan (que também canta na faixa). Uma letra e uma melodia que se completam. Um hit para fãs, mas que todos conhecem (ao menos o refrão). Uma faixa deliciosa.

Ponto pro 3001.


8- A Gripe do Amor (Balacobaco)/ O Amor em Pedaços (3001)


Duas baladas, sendo uma de autoria do Pato Fu. “A Gripe do Amor” é uma deliciosa balada que compara o amor a uma gripe, claro, uma parceria da dupla Lee & Carvalho. Rita e Roberto fizeram uma linda canção de refrão chiclete, mas que ficou escondida no álbum como uma das pérolas. Já “O Amor em Pedaços” é um presente de John e Fernanda Takai que caiu como uma luva no álbum. Uma balada terna e linda que faz do relacionamento um relógio que pode destruir o amor. Ótimo!

Ponto pro 3001.


9- Tudo Vira Bosta (Balacobaco)/ 9- Cobra (3001)


Um rock meio country e uma balada obscura. “Tudo Vira Bosta” é uma letra de protesto dada de presente a Rita por Moacyr Franco, uma letra que faz alusão à escatologia num ritmo meio country rock. Muito bom. Já “Cobra” tem uma letra deliciosa, cheia de jogos de palavras. Mais uma da dupla Lee & Carvalho.

Ponto pra ambos.


10- Eu e Mim (Balacobaco)/ 10- Entre sem Bater (3001)


Uma balada reflexiva e um rock escachado. Em “Eu e Mim” Rita faz uma analogia de seu eu interior analisado por seu eu exterior, a melodia de Roberto é bem sóbria e básica e, por isso, a canção é tão linda. Um dos melhores momentos do álbum. Já “Entre sem Bater” é um rock com uma letra divertida, que conta da ressurreição de uma mulher após encontrar o novo amor. Uma canção composta apenas por Rita, mas que acaba por ser um tijolo menor em sua obra se comparado a “Eu e Mim”.

Ponto pro Balacobaco.


11- Over the Rainbow (Balacobaco)/ 11- Aviso aos Meliantes (3001)


A regravação de uma das canções mais belas já feitas e um dos rocks mais fortes e inescrupulosos. Rita regravou de forma singela e gostosa uma das canções mais belas feitas para um musical, no caso O Mágico de OZ. Roberto criou uma harmonia envolvente e a voz de Rita se adequou muito bem. Já “Aviso aos Meliantes”, parceria de Itamar Assumpção e Roberto de Carvalho, lembra “Rebeldade”, mas de forma crítica e punk. Uma canção que se destaca no álbum, mesmo não tendo destaque na frutífera horta de hits da tia Rita. No entanto, nenhuma gravação pode bater de frente com a singela regravação de um dos temas mais atemporais da história da música.

Ponto pro Balacobaco.


12- Hino dos Malucos (Balacobaco)/ História sem Fim (3001)


Um hino alucinado e uma balada singela. “Hino dos Malucos” é uma deliciosa parceria entre Rita, Roberto e os roteiristas Alexandre Machado e Fernanda Young. A canção é literalmente um hino alucinógeno que foi um grande hit do filme Os Normais, inspirado na série homônima, ambos escritos pela dupla Alexandre Machado e Fernanda Young. Já “História sem Fim” é uma canção com uma letra inspirada, mas de arranjo nem tão inspirado assim. A parceria de Rita e Roberto não gerou uma canção de beleza impactante, como a letra faz supor.

Ponto para Balacobaco.


Enfim, se a contagem elegesse (na minha concepção) o melhor álbum, Balacobaco ganharia com uma diferença de 3 faixas. No entanto cada álbum tem sua peculiaridade e particularidade. Não tenho um favorito. Mas essa analogia bem (des)pretensiosa é apenas um meio de dizer: Rita, sou seu fã!

Um comentário:

Julian de Sousa disse...

Top! Baixei os dois anteontem, tô ouvindo lentamente ainda (apesar de já ter ouvido todas as 24 faixas dos dois álbuns, ainda não lembro de cor as músicas pra concordar ou não contigo) e, talvez, denunciaria uma inclinação por Balacobaco. Da Rita, me falta conhecer muita coisa. Só conhecia o Reza.