quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Feliz, Simone festeja em ótima companhia.


Opinião de Cd
Título: Em Boa Companhia
Artista: Simone
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: ****

Gravado no início do ano de 2010 com duas apresentações no Teatro Guararapes em Olinda, o show Em Boa Companhia deu origem a Cd e DVD ora lançados via Biscoito Fino. O show festeja o ótimo momento da carreira de Simone, proporcionado pelo ótimo álbum lançado pela cantora em 2009, o incensado Na Veia. O Cd duplo traz todos os números do DVD na íntegra, e ainda conta com ótima arte gráfica com ficha técnica completa e todas as letras das 24 canções.

O show, o melhor apresentado por Simone na década, revive canções dos áureos tempos da “cigarra”, como a que abre o roteiro. A deliciosa “Tô que Tô” abre com chave de ouro o projeto. Simone conseguiu reviver, ao vivo, a mesma delicadeza de temas registrados em estúdio e imortalizados em sua voz, como o quarto número do espetáculo: “Face a Face”. A parceria de Sueli Costa e Cacaso foi imortalizada por Simone em tempos áureos, e ganhou uma versão menos dramática, mas não menos bela.

O mote do roteiro ao vivo é o roteiro do álbum Na Veia, que tem todas as suas canções apresentadas no registro ao vivo (isso para mostrar a força do álbum). Simone mostra-se solar, mesmo sem conseguir reeditar ao vivo toda a delícia de “Love”, de Paulo Padilha. A cantora também derrapou na abordagem de “Certas Noites”. A parceria de Adriana Calcanhotto e Dé Palmeira que soava irresistível em estúdio soa apenas correta ao vivo. É o caso também de “Bem pra Você”, outra inspirada parceria de Dé Palmeira, mas, dessa vez, com Marina Lima, que ressurge menos sedutora. Por falar em Marina, a cantora aparece em dose tripla no roteiro. Simone não só registrou a inédita parceria de Marina e Dé como também deu abordagem menos pop para o hit “Fullgás” (Marina Lima/ Antônio Cícero). A “cigarra” também abordou todo o romantismo de “Nada por Mim”, a bela balada de Paula Toller e Herbert Vianna lançada em 1985 por Marina em seu disco Todas. Simone dá boas abordagens para temas alheios, como é o caso de “Ame”, que soava apenas correta em estúdio, mas que cresceu e apareceu ao vivo. É o caso também da ótima gravação de “Lá vem a Baiana”, o suingante samba de Dorival Caymmi, revivido por Simone com jinga e molejo. A cantora deu também uma roupagem deliciosa para o hit “Ive Brussel”, de Jorge Ben Jor, superando, inclusive, a gravação do autor.

À medida que as faixas são executadas é possível notar que muitas das canções do álbum Na Veia cresceram e apareceram, como, por exemplo, “Definição da Moça”, poema de Ferreira Gullar musicado por Adriana Calcanhotto, que, no álbum, passava despercebido, mas que se mostrou realmente bela ao vivo. Outra que também cresceu no palco foi “Hóstia”, inspirada canção de Erasmo Carlos que perde apenas para a mais inspirada “Migalhas”, também de Erasmo e destaque no repertório. O tom populista que Simone adquiriu nos anos 80 foi dissolvido a pó, principalmente na abordagem “cool” da cantora para “Deixa eu te Amar”, o hit oitentista de Agepê. Mas é também nos hits populares dos anos 80 que Simone pega carona para tornar seu repertório mais irresistível, como na abordagem latina de “Geraldinos e Arquibaldos”, de Gonzaguinha e regravada por Simone no álbum Na Veia. Ou então sua abordagem “cool” para “Perigosa”, a deliciosa composição de Roberto de Carvalho, Nelson Motta e Rita Lee que foi um sucesso estrondoso na voz do grupo As Frenéticas. Aliás, o tema é precedido por ótima abordagem também de “Pagando pra Ver”, outro grande momento do álbum Na Veia que apenas cresceu em cena. Mas é para “Ai, Ai, Ai”, o tema de Ivan Lins e Vitor Martins lançado por Simone na década de 80 o grande destaque já no fim do repertório (que também destaca sua versão para “Paixão”, hit de Kleiton e Kleidir). A cantora apresenta, já no fim, sua versão “Chuva, Suor e Cerveja” (Caetano Veloso), que teve seu ritmo desacelerado para valorizar a letra do baiano tropicalista. Simone encerra o disco com o sucesso “Ex Amor”, de Martinho da Vila (do qual Simone também apresenta “Na Minha Veia”, canção responsável por dar título ao álbum que inspirou o show).

Enfim, o tom festivo e solar que Em Boa Companhia exala é o reflexo de que Simone, quando se cerca de bons compositores à altura de sua voz (hoje sem a mesma força dos anos que passaram, mas ainda sedutora) está, sim, em ótima companhia.


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