Opinião de espetáculo de dança
Título: Vila Tarsila
Elenco: Cia. Druwn
Direção: Cristiane Paoli Quito e Miriam Druwe
Coreografia: Miriam Druwe
Local: Sala Jardel Filho - São Paulo (SP)
Data: 04 de junho de 2010
(em cartaz até 06 de junho de 2010)
Cotação: ****
Já não é de hoje que a Cia. Druw (dirigida pela bailarina Miriam Druwe) se inspira nas artes plásticas para montar um espetáculo. Usando de toda a brasilidade de Tarsila do Amaral, Vila Tarsila foi o espetáculo, inspirado na vida e obra da pintora, que aportou no dia 27 de maio na Sala Jardel Filho, dentro do Centro Cultural de São Paulo para 8 apresentações dentro do projeto Fomento à Dança. Num mix de dança, música e teatro, Vila Tarsila é um espetáculo quase erudito que, voltado para todos os públicos (desde o infantil até a terceira idade), consegue se manter coeso.
Inspirado na obra e vida de Tarsila do Amaral (1886 – 1973), o espetáculo dá ênfase na vida artística da brasileira que foi estudar em Paris e, ao voltar, fora criticada por ter voltado, dizem, “afrancesada”. As viagens da artista foram retratadas de maneira dinâmica, fazendo com que o espetáculo não se tornasse cansativo em nenhum momento. Suas obras mais famosas também foram símbolo de exploração pela Cia., dentre elas estiveram Abaporu (1928) e Operários (1933), esta última, em especial, foi retratada com as fotos dos componentes da Cia. O espetáculo é sensível, trata de Tarsila com respeito e admiração.
Menos colorido que seu antecessor, Lúdico (2008) – que tinha como base a obra do russo Wassily Kandinsky –, porém mais dinâmico que Alfredo (2007), Vila Tarsila ganha ponto também por usar e abusar da licença poética, ao representar Tarsila do Amaral como uma típica brasileira esforçada e debochada tanto com o francês quanto com o português, visto que, ao encenarem seu retorno ao Brasil, é cantada, com maestria e afinação, uma versão de “Disseram que Voltei Americanizada” (Vicente Paiva e Luiz Peixoto, 1940), sucesso lançado por Carmen Miranda. A canção se transformou em “Disseram que Voltei Afrancesada”, grande sacada.
As coreografias de Miriam Druwe, se não exploram tanto elementos cênicos quanto no espetáculo Lúdico, conseguem se manter em destaque ao explorar, de forma quase ortodóxica, os três espaços: alto, médio e baixo. Os bailarinos também dão sua marca às coreografias. E são eruditos. Destaque para o francês nacionalista Bruno, que mostrou, assim como parte do elenco, boa dicção francesa. Não perdeu o tato com a língua mãe.
A direção de Cristiane Paoli Quito consegue ser o grande diferencial. Ao aproveitar da dança para salpicar o espetáculo com algumas falas (herança também do supracitado Lúdico), Cristiane consegue imprimir no palco a real necessidade da obra: manter Tarsila viva no imaginário popular. Talvez por isso, e por exigência do próprio Fomento, o espetáculo tenha sido apresentado de graça.
Enfim, Vila Tarsila é espetáculo sensível, dinâmico e erudito que, apesar de ser menos colorido que seu antecessor, Lúdico, consegue se destacar no currículo da Cia. Druw. Vale (e muito) à pena conferir.
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