quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Cia. Monteiro Lobato dá notas em noite iluminada.











Resenha de Patrícia Neves para a coluna O Que me Importa, da revista Joungle SP.

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Opinião de peça teatral
Título: As Notas
Elenco: Ana Paula Caruso, Bruno Cavalcanti, Fabiana Vileila, Janaína Moreno, Jeferson Cruz, Lucas Magalhães, Maria Creuza, Mário José Cutolo e Patrícia Weiss
Direção: Mário José Cutolo
Local: Auditório Ilza Cintra - Educandário Allan Kardec, São Paulo - SP
Data: 21 de novembro de 2009
Cotação:
*** ½

Nem a chuva, nem o mormaço, nem a noite escura, nenhum destes fatores foi usado como desculpa pelo público que compareceu em peso, na noite de 21 de novembro (sábado), ao Educandário Allan Kardec, em São Paulo, para conferir a estréia de As Notas, a nova produção da Cia. de Artes Monteiro Lobato. O (pequeno) auditório, localizado dentro do colégio na região de Interlagos, podia não estar lotado, mas o público que compareceu foi o suficiente para ser testemunha da estréia do primeiro drama da Cia.

A história contada tem base social, e usa da vertente da doutrina espírita para mostrar um dos grandes males que o ser humano enfrenta: o suicídio. A base podia ser espírita, mas manteve uma linearidade que fez com que a peça pudesse fazer qualquer religião se identificar. Mesmo com a presença de personagens comuns em peças do gênero, caso do mentor Rossini (um maestro no plano espiritual interpretado por Bruno Cavalcanti) ou do obsessor Júlio (interpretado por Lucas Magalhães).

O texto de Rodrigo Guidotti (adaptado por Mário José Cutolo) conta a história de Karin Vasquez (Patrícia Weiss), uma jovem que anseia por ser cantora, mas que tem seu sonho destruído pela mãe, a vilã Isa Vasquez (Fabiana Vilela), que compra seu maestro regente, Ênio Antunes (Jéferson Cruz). A história se passa quando Karin decide se matar e, num sonho, seu mentor, o maestro Rossini, tenta convencê-la a desistir da idéia, mostrando sua vida e cenas que a marcaram. A fórmula pode ser batida, mas a flexibilidade do texto permite que a fórmula se mostre como novidade.

Karin revive cenas como a recusa do maestro por seu trabalho e brigas intensas com a mãe. A psicologia usada na peça (de como uma família pode ser destruída pelo pode, dinheiro e fama) é bem-vinda. A atuação de Patrícia Weiss convence e emociona, assim como não é difícil se emocionar ao perceber o relacionamento de cumplicidade de Karin com seu irmão, Kaio Vasquez (Mário José Cutolo). A dupla Karin & Kaio dá o tom de emoção familiar do projeto. A família também é ressaltada pela delicadeza de Isaura Vasquez (Janaína Moreno).

Um drama por si só seria muito proveitoso, mas não para uma Cia. que vêm de um histórico de 7 comédias em 3 anos (admitidos após o fim da peça, nos agradecimentos finais). A comédia esteve presente. Mais singela que o habitual, mas esteve lá personificada na ótima Cecília Vasquez (Maria Creuza). A avó esclerosada deu a pitada de humor necessária. Nem demais, nem de menos, como quando contracena com seu obsessor, o espírito do neto que matou, Júlio (Lucas Magalhães).

A peça é multifacetada, agregando música e danças. No roteiro podemos encontrar canções líricas e de um lado mais noturno do conhecimento geral. Pode-se ouvir desde Enya até The Fevers, passando por Enigma e Emma Chaplin. Belo. As coreografias de Eduardo Rodrigues permitiram aos atores maior liberdade em cena, fazendo com que a peça, em nenhum momento começasse a ficar cansativa. Erros estiveram presentes também, mas todos perdoáveis ao se tratar de uma estréia, e nenhum que tirasse o brilho do espetáculo.

A peça ganhou ponto pela humanidade com a qual foi tratada. Era nítida a emoção dos atores ao interpretar personagens muito verdadeiros. Se o público pôde ter ódio de Isa Vasquez no decorrer da peça, pôde também sentir pena da vilã e, em alguns casos, acabar com um pouco de piedade da mulher que levou a filha à morte. Assim como era possível sentir dó e desprezo de Ênio Antunes, compaixão por Kaio Vasquez, medo de Júlio, respeito por Rossini, carinho por Isaura Vasquez, solidariedade por Cecília Vasquez e fraternidade por Karin Vasquez. Os atores emocionaram. Inclusive aqueles que estreavam. Janaína Moreno e Lucas Magalhães deram um bom primeiro passo nesta estréia (admitida pelo diretor nos agradecimentos finais). O evidente nervosismo de Moreno à parte e a dificuldade de Magalhães na dicção (esta também evidente) foram detalhes (muito) relevantes. Outra boa participação foi de Ana Paula Caruso que, embora tivesse espaço pequeno na produção, tinha grande importância ao se revelar mãe de Júlio e a filha morta de (e por) Cecília.

O último ponto alto, facilmente perceptível, foi a sóbria iluminação, que tomou conta do pequeno auditório com cores evolventes. Sem contar com o encerramento da peça, numa explosão apoteótica e festiva em ritmo do rock "Elas por Elas", do grupo The Fevers. Direto do baú.

As Notas, pode-se concluir, é uma boa peça que estreou sólida. Tanto conteúdo quanto forma se diferem de sua antecessora, Rascunhos, que, apesar de boa, era um veículo de diversão gratuita. As Notas te convida a refletir com mais lividez. Vale à pena conferir.


3 comentários:

Anônimo disse...

PARABÉNS, LINDÍSSIMO.
BEIJOS

Faby Vilela disse...

Ameiiiiiiii....Bru só você nos proporcionar esta crítica. Agora eu comecei acreditar que eu fui uma vilã....rtsrsrsrsrsrs...bjks no coração.

Luiza disse...

Maravilhosa peça... amei, amei, amei!!!!! Hidtória ótima e tudo de melhor!