Sentia-se ridículo sentado em frente àquele computador escrevendo coisas desconexas para que se sentisse inteligente. Queria muito mais sentir que era inteligente do que passar essa imagem de fato. Mas lá estava ele, pseudo-inteligente escrevendo baboseiras para enviar por e-mail. “Não me julgues, odeio escrever, prefiro falar” ou “não pense que coragem me falta, eu a tenho, mas é tão mais cômodo estar aqui escrevendo isso para você” ou ainda pior “sou muito melhor na escrita que na fala”. Tudo era tão ridículo que dava a ele a vontade de morrer um pouco para depois retornar e escrever mais daquelas baboseiras sentimentais e boçais, mas que, para ele, faziam o maior sentido do mundo e soavam geniais.
Eduardo tinha esse costume. Era extremamente tímido e mais que tímido medroso. Não sabia se declarar, então o fazia por e-mail. Algo que só não é patético porque é ridículo. Ou só não é ridículo porque é patético. Mas lá estava ele. “Querida Cristiane, te escrevo esse e-mail para lhe contar de todo o meu amor”. “Saco”. Apagou tudo. “Cristiane, te envio esse e-mail para marcarmos uma conversa, te adianto o assunto: te amo”. “Bom”. Patético. Ouvia uma seleção de canções fossa enquanto cantava em busca de inspiração. Ia de Adriana Calcanhotto (que é pra ver se você vooooltaaaaa, que é pra ver se vocêêê veeem, que é pra ver se você olhaa pra miiiim!) a Ana Carolina (eu só quero saber em qual rua minha vida vai encostar na tuaa) sem nenhum pudor, passando por Madonna (you must love meeeeee), Roberto Carlos (hoje eu ouço as canções que você fez pra miiiim) e finalmente Beatles (lucy in the skyy with diamonds). Pronto. Beatles. Havia se esquecido de que prometera nunca mais ouvir Beatles, ainda mais essa canção. Era a canção favorita de Mariana e sabia que, inconscientemente, tinha feito isso de propósito. Largou o e-mail de lado e abriu a gaveta da escrivaninha. Lá estava uma foto sua com Mariana tirada há alguns anos atrás numa festa a fantasia em algum evento qualquer. Os dois se encontraram por acaso, mesmo ambos sabendo que o outro iria. Foi um encontro casual. Ele vestido de pirata, ela de diabinha. Estava linda. Eduardo a olhou de cima a baixo e tentou disfarçar seu coração saltando rápido, seus lábios secos. Já estava apaixonado por ela e sabia o quão intenso era. “Como está?” “Muito bem e você?” “Estou bem também. Não sabia que gostava de piratas” “Nem eu que você gostava de diabos” “São os melhores”. Concordou. Os dois conversaram, tiraram fotos e mantiveram um papo agradável, uma amizade bastante lúcida e divertida. Eduardo sabia que estava apaixonado por Mariana, mas Mariana sequer notou qualquer indireta. “Acho que vou embora”. “É, eu também”. “Veio de carro?”. “Não, peguei um táxi”. “Quer carona?”. “Lógico”. Ambos saíram da festa após terem se despedido, a mãe de Mariana presente continuou na festa prometendo ir embora logo mais. Ambos foram em direção ao carro de Eduardo, ele tremendo, vendo ali uma grande chance, ela cambaleando graças aos dois pequenos copos de cerveja que tomara (fraca para bebidas que era). Despediram-se com um beijo cordial, Eduardo ainda tremendo sem saber ao certo como conseguiu dirigir até a casa de Mariana. “Nos vemos amanhã?” .“Claro”. “Espera!”. “Oi?”. Eduardo hesitou o máximo que pôde. “Boa noite”. Arrancou com o carro e foi fazer o retorno para a direção de sua casa. Chegando, já tarde da noite e embebido por sua falta de coragem sentou-se em frente ao computador e decidiu enviar um e-mail. Sentia-se ridículo escrevendo aquelas coisas, no entanto sentia-se ainda mais ridículo deixando aquilo em sua mente e, pior, em sua barriga, embrulhando-a como se fosse papel de presente velho. Sabia que precisava de Mariana, ao menos falar, contar tudo a ela. “Não me julgues mal”...
“Foi aí que tudo degringolou”. Pensava enquanto olhava para a foto que tinha de Mariana no grupo de teatro. Olhou de volta para o e-mail que escrevia. Será possível alguém tão patético assim se utilizar das mídias eletrônicas para dizer algo que pessoalmente seria bem mais intenso e interessante? O coração saltaria pela boca, as pernas ficariam bambas e a boca seca, os olhos, com muita sorte, marejados, as mãos trêmulas e a barriga embrulhada, tudo isso numa adrenalina que nenhuma outra droga seria capaz de proporcionar. Olhou fixamente para a tela do computador. Babaca. Patético. São infinitas as palavras para definir a autocrítica de Eduardo naquele momento. Olhou fixamente para o e-mail e apagou a última frase que havia escrito. “Assim não está bom”. “Precisaremos conversar sobre isso, é um assunto sério, afinal de contas...”.
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