sábado, 19 de fevereiro de 2011

A Arte Prática de se Contar Histórias

Desde os primórdios da humanidade a comunicação humana tem sido feita através de símbolos e gestos. A simbologia antes utilizada como linguagem oficial é hoje uma linguagem restrita. Não são todos que sabem como se comunicar usando de uma linguagem que fora “adestrada” e taxada em diversos países com uma nomenclatura diferente. No Brasil essa expressão ganhou o nome de “libras”, que vem a ser a linguagem utilizada entre surdos e mudos para a comunicação. A comunicação em “libras” vem da expressão corporal lá dos primórdios, quando os seres mais primitivos usavam dela de forma extravagante. Hoje, adestrada, se limita apenas a gestos de mãos e, por vezes, braços. Adestrada ou não a comunicação funciona.

Explorando e chegando mais a fundo na comunicação durante a expressão corporal chegamos à arte. Por arte entendam-se todas as suas vertentes: a música, as artes plásticas e, principalmente, a dança e o teatro. Estes dois últimos tópicos são os mais essenciais, onde a utilização do corpo é indispensável. Ao se contar histórias a utilização do corpo se faz necessária também, visto que contar histórias é mostrar uma vertente de ator. Quem conta histórias atua (mesmo que quem atue não conte histórias).

Trabalhemos primeiro com a importância desta arte de se contar histórias. As histórias fazem com que viajemos, fazem com que nos encontremos num outro mundo, numa outra realidade. Psicanalistas mais ortodoxos com certeza taxariam a arte de contar histórias como a arte de enganar, de criar próteses numa perspectiva freudiana, no entanto a dita “prótese” não se cria por um terceiro, mas sim pelo próprio individuo que deseje fugir da realidade sem nunca mais voltar. Já aquele que conta histórias simplesmente estimula a imaginação daquele que a ouve e, consequentemente, estimula o cérebro em suas duas partes: o racional e o emocional. O emocional se liga ao absurdo da história, enquanto o racional permite que você se mantenha ligado á realidade, sem se deixar levar por algo que não exista. Num dos trechos do livro “Um Palco para o Conto de Fadas: uma experiência teatral com crianças pequenas” de Luiz Fernando de Souza, a ideia de que o contador de histórias se dirija à sensibilidade da criança (consequentemente ao lado emocional de seu subconsciente) é esmiuçada e explicada. No trecho o autor explica que as histórias podem servir como estimulo para seu lado mais sensível, mais ligado à arte, mais Jung, para que ele, no futuro, consiga reprimir a própria barbárie, deixando que floresça o melhor em seu “eu”.

Leia abaixo o trecho extraído do livro de Luiz Fernando de Souza:

"Ao estabelecer um "palco" para o conto de fadas, esse é nosso objetivo: nos dirigir à sensibilidade da criança, dando-lhe os subsídios que o conto e o teatro possuem para que ela os organize como quiser e puder, enriquecendo seu potencial sensível, para que seu mundo, no futuro que começa hoje no presente, não comporte mais a Barbárie"

Portanto a arte de contar histórias tem um cunho não só artístico, mas também social. A arte tem um cunho social, na realidade, mesmo que ela seja vista como um tijolo menor a se discutir dentre tantos problemas de uma sociedade pós-moderna é um tijolo importante que merece mais atenção.

A arte da expressão corporal ao se trabalhar com a arte de se contar histórias é também de grande importância. A ilustração corporal que se pode fazer ajuda no estímulo da imaginação de cada criança. Por expressão corporal entenda-se – é bom elucidar – tudo aquilo que o corpo permite ser feito, ou seja desde a arte da dança até a arte dos sons. Um ótimo exemplo deste trabalho de sons é o trabalho realizado pelo grupo Barbatuques há 14 anos. A percussão corporal é uma ótima saída para que o trabalho lúdico de se contar histórias mostre-se sempre renovado e interessante, principalmente para gerações que desconhecem esta arte e se familiarizam mais rápido com a dita “geração cibernética”. Inclusive a arte de se contar histórias é uma prática que está se perdendo principalmente com a ansiedade do mundo moderno, onde tudo acontece rápido demais, onde tudo acontece sem nem nos darmos conta de que já aconteceu. Contar histórias requer paciência, requer amor, requer gosto, vocação e tempo. Justamente por estes predicados esta prática é apresentada a todo o momento neste artigo como uma “arte”, afinal de contas a arte é a forma mais pura e sensível de expressão do ser humano. Desde que eram usadas para comunicação. Hoje a arte é usada até como terapia e como meio de fuga do mundo real ou até como meio de ligação a este mesmo mundo, sendo usada como conscientização. Ou vocês acham que a arte de se contar histórias é apenas uma brincadeira lúdica? A inteligência e a interpretação de cada um permite que a arte de se contar histórias seja vista de todas as formas e daí vem, reiterando, a utilização do corpo. Enquanto a boca conta uma história o corpo pode ilustrar essa história ou então contar uma outra, ou até mesmo contar a história de outrora por uma nova vertente.

Enfim, arte por arte, a prática de se contar histórias (e aqui me refiro como prática por ser algo extremamente fácil de ser incorporado à vida de alguém) é primordial para a diversão, estimulo sensível da sensibilidade de um ser humano, conscientização... enfim, uma prática artística que não pode ser simplesmente descrita ou taxada. Contar histórias é simplesmente contar histórias, e por isso entendam aquilo que lhes vier á cabeça. A ideia é essa!

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