Quando este texto for publicado talvez já se tenha passado algum tempo de escrito. Não por preguiça ou fatiga, mas apenas por impossibilidade.
Todos nós conhecemos a morte por conceito. Sabemos que ela existe e sabemos como ela age. Muitas vezes certeira pontual e objetiva, outras vezes faceira, prolixa e redundante. Mas que ela vem, isso é certo. Um dos grandes mistérios é como lidar com ela.
O acontecimento que se abateu pelos lados onde moro foi o desencarne (morte, para os mais conservadores) de uma mulher velha conhecida de todos. Podia não ser bem querida por todos, mas que era bem conhecida, isso é certo. Não faço esse texto como uma homenagem ou como uma citação, mas sim como um modo de expressar os sentimentos que surgem em meu consciente, os quais não sei expressar. Sei apenas que teve o impacto que todas as mortes tem em mim: surpresa. Nunca perdi ninguém que considerasse muito próximo, muito pelo contrário, apenas pessoas com quem no máximo trocava um bom dia. Sem conversas longas, sem grandes declarações e sem nada mais. Mas claro que, não importa quem se foi, alguém se foi, e a dor da família e amigos é comovente. Dois vê-los sofrer, mesmo que pensemos entender o que vem depois da morte. Muitos acreditam no julgamento da alma: céu ou inferno? Outros acreditam em outro tipo de julgamento: qual o seu grau de evolução? Você continuará neste planeta como um ser humano ou voltará como uma frágil e indefesa mosca que pode perder o direito de viver a qualquer momento? Para outros depois da morte acabou! Não resta mais nada. Eu por outro lado acredito que a morte é a porta de entrada para um novo mundo. Mas não vou entrar em conceitos mais profundos.
Aqueles que costumam ler meus textos devem estar estranhando esta diferente forma de escrever. Não se espantem, ainda estou sobre o efeito de Dom Casmurro.
Mas, voltando ao raciocínio. Nos deparamos com a morte como um grande fim, quando ela deve ser vista como um novo começo. O luto é necessário, não sei se para o espírito, mas para que nos sintamos aparados pela possibilidade de nos sentirmos fracos, uma veizinha que seja. A comoção dos vizinhos foi e ainda é grande, visto que o fato é recente (na noite em que escrevo este texto). Os familiares... bom, não sei como estão, ainda não os vi, mas sei que a dor não será fácil de ser superada. Quando perdemos alguém para uma doença talvez consigamos assimilar mais facilmente essa perda. Afinal era algo já previsto. Mas quando perdemos alguém, como neste caso específico, para a violência de um país onde reina a impunidade, como ficamos? Como ficam nossos direitos e nossos desejos? Como ficam as belezas que sonhamos apresentar a nossos filhos? Como fica a história? E aí? E o Brasil? A quantas anda? Como é possível viver num país de impunidade e bacanal?! Tudo é festa no país do futuro e da televisão! O carnaval é nosso bálsamo benigno, mas eu pergunto: e o resto? Quem vai ficar no gol? Os bandidos de colarinho branco continuam lá, naquela porra de senado! Os bandidos da pior espécie também continuam aí soltos à margem da lei! E nós? E nós cidadãos? Vivemos onde? Onde nós vivemos, porra?! Que merda de país é esse que é governado por plebeus ignotos?! Que droga de cidade é essa com um prefeito mais preocupado em tirar cartazes das ruas que proteger a população de vagabundos à margem da lei?! E o governo? Um filho da puta (no sentido não literal da expressão) nos deixou ao rés do chão para se candidatar a presidente dessa mumunha que chamamos de país! E o presidente? Viajando feito andorinha na migração. E o povo? E nós? Pra onde nós vamos? Pessoas morrem por aí enquanto eles estão lá cercados por luxos que nós pagamos com o nosso suor! Se é para fazer merda que façamos direito e votemos direito nessas eleições! Não quero um país governado por boçais que fazem pouco de nossas caras! – Como comecei a falar de política dentre a um texto que começou com um teor pseudo-filosófico? Não sei, mas ela está aí!.
A morte está aí para nos mostrar um outro caminho espiritual, mas também está aí para nos mostrar que, na lei dos homens, sempre há o que se mudar. Votemos direito nessas eleições, volto a repetir, e deixemos a alienação de lado! Que vergonha que tenho da minha idade enquanto maioria. Um bando de alienados ligados a nada e desligados ao mundo! Sim, senhores, as críticas rolariam soltas neste texto se não decidisse dar-lhe um ponto final. Por que dar-lhe um ponto final? Porque minha raiva já não se contenta mais a se explicitar em linhas. Então encerro por aqui.
2 comentários:
Bom dia meu querido.
Sinto por esta pessoa, a perda é sempre dolorosa, não importa a religião.
Você fez um maravilhoso texto, imagine se fosse bom nisso como disse entre linhas deste texto, ficaria o que Divino.
Me desculpe pela ausência, mas aos poucos vou lendo tudo, estava e estou com saudades.
mil bjos a você.
Quando cheguei ao final da pagina fiquei muito feliz por você, pelos dois selos, parabéns e tudo de bom sempre a vc e ao blog.
Bjos.
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