domingo, 28 de fevereiro de 2010

Vibrante, "Hairspray" envolve do início ao fim


Opinião de musical
Título: Hairspray
Elenco: Arlete Salles, Danielle Winits, Edson Celulari, Jonatas Faro, Simonte Gutierrez e grande elenco
Direção e adaptação de texto: Miguel Falabella
Local: Teatro Bradesco - São Paulo (SP)
Data: 27 de fevereiro de 2010 (em cartaz até dia 28 de março)
Cotação: ****

Musical de John Waters escrito originalmente para o cinema e, mais tarde, adaptado para os palcos da Broadway, Hairspray chegou ao Brasil em 2009 com direção e adaptação de Miguel Falabella. Com estréia ocorrida em 26 de fevereiro de 2010 em São Paulo (o musical estreou no Rio de Janeiro em 2009), Hairspray voltou à cena mais enxuto e alinhado. Vibrante e envolvente do início ao fim, Hairspray é um dos grandes espetáculos que aporta na capital paulistana neste primeiro semestre de 2010.

Logo no início do espetáculo já é possível se animar com a história da jovem Tracy Turnblad (interpretada por Simone Gutierrez) ao interpretar “Bom Dia, Baltimore” (“Good Morning, Baltimore”). Cada cena dava à platéia a real sensação de estar participando da vida da jovem garota gorda que sonhava em ser dançarina do Corny Collins Show que, aliás, agregou um ótimo elenco em seu núcleo. O próprio apresentador Corny Collins era vibrante, o que realmente dava a boa impressão de se tratar de um programa de auditório com um bom apresentador. Alardeada pela mídia, a transformação de Edson Celulari de galã de novela para a dona de casa obesa Edna Turnblad foi realmente espantosa. O ator conseguiu dar vida à personagem, contando com trejeitos e delicados movimentos, o que não deu a impressão de vermos no palco simplesmente um homem (tra) vestido de mulher.

O musical foi regado a piadas que, hora apelativas, hora inteligentes, funcionaram muito bem, sobretudo quando eram ligadas às canções interpretadas em cena. O elenco também foi um grande show à parte. Fora dos grandes holofotes, o dito “elenco de apoio” mostrou afinação ao cantar e grande habilidade ao dançar nas mais de 2 horas de espetáculo.

Vilã da história, Velma Von Tussle foi bem interpretada por Arlete Salles que, mesmo sem ter vocação para o canto ou a dança, compensou sua “deficiência artística” com ótima interpretação da vilã da história, que protagonizou cenas hilárias, mesmo que regadas a conotações sexuais que faziam lembrar sua personagem no humorístico Toma Lá, Dá Cá, a espevitada Copélia. Danielle Winits, infelizmente, não conseguiu se destacar ao dar vida À Amber, filha de Velma. A personagem acabou por ficar insossa e pouco confortável em cena. Nem ao menos a interpretação de “Xexelenta” (“Cooties”) conseguiu fazer com que o público se empolgasse com a atriz.

O musical é tão emocionante quanto o filme (o original, de 1988, e o remake de 2007). Prova disso são ótimos números como “Bem Vinda aos Anos 60” (“Welcome the 60’s”), “Eterno pra Mim” (“Timeless to Me”), “Eu Ouço os Sinos” (“I Can Hear the Bells”), “Não Vamos Parar” (“You Can’t Stop the Beat”), “Eu sei de Onde Vim” (“I Know Where I’ve Been”) e “Sem Amor” (“Without Love”) que deram ao espetáculo a força necessária, assim como os números “Prisão” (“Jail”) e “Miss Carangueijão” (“Miss Baltimore Crabs”) deram a graça e a leveza necessárias.

Dividido em dois atos, Hairspray é vibrante e especialmente envolvente e emocionante. É impossível não ficar atento e deixar as lágrimas rolarem em determinados momentos, seja o solo de Graça Cunha ao interpretar Motormouth Maybelle, seja ao ver Edna Turnblad e Wilbert Turnblad declarando amor eterno (mesmo com ótima piada improvisada por Edson Celulari quebrando o momento emocionante). Vale à pena se entregar à emoção e aos efeitos (realmente) especiais presentes em cena. Assim como os gigantescos cenários, que davam a verdadeira impressão de que os musicais brasileiros nunca deveram ou deverão nada aos montados e encenados na Broadway.

Grande surpresa do espetáculo foi o ator Jonatas Faro, que deu vida a Link, o mocinho da história. A interpretação e a voz de Jonas deram ao mocinho a simpatia e empatia que Zac Efron não conseguiu dar no filme de 2007. É verdade também que as Dinamites não são tão envolventes quanto as do filme, e que tanto a pequena Inês quanto Seaweed soam pouco envolventes em cena, mas ainda assim não fazem com que o espetáculo deixe de crescer, assim como Penny Pingleton começa pequena e pouco envolvente, mas depois ganha seu espaço no grande musical.

Enfim, Hairspray é vibrante e envolvente e, mesmo com suas (poucas) falhas, pode ser considerado um dos melhores musicais já montados em palcos brasileiros. Vale (e muito) à pena conferir.


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