quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O que Você Quer Saber de Verdade - o disco


O que Você quer Saber de Verdade. É esta a pergunta (ou afirmação) que Marisa Monte faz ao nos apresentar o seu sétimo álbum de estúdio (e nono de carreira – contando o álbum Tribalistas, dividido com Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown).

Este é um álbum que tem dividido opiniões e, confesso, foi um álbum que demorei muito a digerir (e é possível ainda encontrar um ou outro resquício dele entalado em minha garganta), mas que finalmente consegui entender. Ele não tem o mesmo ar refinado do belos gêmeos que a cantora lançou em 2006 (o pop Infinito Particular e o sambista Universo ao meu Redor), muito menos a aura romântica de Memórias, Crônicas e Declarações de Amor (2001), mas lembra muito a aura tranquila do projeto Tribalistas (2004), portanto a mensagem passada por Marisa é clara: viva a vida, seja alegre, leve e solto e esqueça o resto. Não é inovador, mas também não é um caminho tão simples a ser seguido. As canções de teor alegre (salvo “Depois”, delicioso tema melancólico que – como anda dizendo a dita “crítica especializada” – poderia estar em qualquer álbum do Roberto Carlos da década de 70 – e de fato poderia) são contagiantes. Impossível não se deixar contagiar pela deliciosa faixa-título, que enfatiza a pergunta/ afirmação em seu refrão: o que você quer saber de verdade. Marisa, na verdade, não pergunta nem afirma, apenas aconselha: “atenção para escutar o que você quer saber de verdade” (que, se bem interpretado, se faz entender que Marisa trata do próprio disco, afinal a canção o abre, então atenção, isso é o que você quer saber de verdade). Deliciosa canção da lavra perdida de Jorge Bem Jor, “Descalço no Parque” é uma deliciosa pérola lapidada por Marisa, que vai ainda mais fundo em seu baú de memórias e revive “Lencinho Querido”, delicioso bolero do repertório de Dalva de Oliveira, que ganha ares modernos na voz de Marisa (fórmula utilizada por Marisa desde seu primeiro álbum, MM, de 89). Marisa segue em clima de festa atingindo um belo ápice em “O que se Quer”, delicioso forró, fruto da inédita parceria entre a cantora e Rodrigo Amarante (que canta no disco casando muito bem sua voz com a dela). Se “Nada Tudo” passa desapercebida, “Verdade, uma Ilusão” prova ser mais uma pérola do repertório de Marisa, algo para a prateleira de deliciosas canções que o público em massa não tem grande conhecimento (“Na Estrada”, “Carnalismo”, “Um a Um”, “Tudo Pela Metade”, “A Primeira Pedra”, “Levante”, dentre outras).

O primeiro single do álbum, “Ainda Bem” não só dividiu opiniões como parece ter deixado parte do público que insiste em formar ideias vãs surdos. Uma canção singela, simples e direta. Marisa não faz rodeios ao festejar o amor que encontrou, sem contar que, sonoramente, é uma canção rica, com arranjos deliciosos. Se “Depois” poderia estar em qualquer álbum do Roberto na década de 70, “Aquela Velha Canção” estaria facilmente em qualquer disco da década de 70, principalmente de algum tropicalista. A canção já prova ser atemporal por nos remeter não só a um passado, mas também ao presente e a um possível futuro. “Era Óbvio” tem bela letra apesar de não cativar, mas abre caminho para que Marisa volte a cair no forró, mas dessa vez em ritmo de xaxado com a deliciosa Hoje eu não Saio, Não” (remetendo à Marisa que cantava cheia de ginga o “Xote das Meninas” na década de 90). “Seja Feliz” passa o recado com muita simplicidade (seja feliz!), mas é “Bem Aqui” que nos situa na obra de Marisa Monte na última década. É uma canção que estaria presente facilmente em Infinito Particular, principalmente por lembrar “Pelo Tempo que Durar”, canção que fechava o mais pop dos dois gêmeos de Marisa.

Enfim, O que Você Quer Saber de Verdade sobre Marisa Monte? Pode ser que esteja em seu último álbum, mas cuidado, ouça com atenção, afinal, mesmo ao se pisar em ovos, é muito fácil se enganar quando se fala de Marisa Monte.

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