“Wilhelm, que seria do nosso coração em um mundo inteiro sem amor? O mesmo que uma lanterna mágica apagada!” (Goethe – 1774 – fragmento de Os Sofrimentos do Jovem Werther).
A mente humana não se ambienta apenas no local onde o corpo está. Ela viaja – e viajar neste sentido pode ser tido em dois sentidos: o figurado e o literal – para todos os lugares (im) possíveis. Idealiza e revisita lugares nunca antes vistos. Tudo para fugir da realidade, por vezes monótona, por vezes desinteressante e por vezes muito dura. Mas a mente não foge, ela apenas coloca na realidade um disfarce, uma nova visão de mundo. Ela recria ambientes, adaptando-os assim a seu estereotipo de idealidade. As imagens criadas correspondem ao que a mente acredita ser uma boa verdade para se acreditar, seja por alguns instantes, seja por uma vida toda.
A todo o momento tentamos uma fuga (rápida que seja) da realidade. É impossível se privar de alguns momentos de prazer ao se imaginar fora de um determinado local ou então imaginar uma ação realizada com a maestria que, de fato, nunca existiu. A imagem, no entanto, não é uma enganação. A menos que se permita acreditar única e exclusivamente naquilo que é imaginado, a imagem serve apenas para dar-nos momentos – poucos momentos – de prazer e de esperança. Se os telejornais mostram um planeta em lenta extinção é impossível deixar de imaginar – portanto, como diz a palavra: imaginar, de imagem – uma solução rápida, fácil e indolor. Há, lógico, casos de uma imagem que dura uma vida inteira. Podem-se dar vários nomes, dentre eles sonho, fantasia e, até mesmo, loucura. Há quem acredite tanto na imagem que cria que acaba por ficar louco, mas vale lembrar que a loucura nada mais é que a expressão externa das mazelas, dos medos, das raivas e dos problemas do ser humano. Todos temos a loucura dentro de nós representada de alguma forma, a diferença é que alguns sucumbem e outros não, assim dizia Freud. Portanto a imagem que nós criamos dentro de nós continua guardada em nosso subconsciente, a diferença é que alguns de nós podemos a qualquer momento sucumbir a elas, substituindo a realidade pela nossa idealização dela. E há casos que podem acontecer justamente ao contrário. Se suprimirmos, se escondermos essa imagem em nosso consciente sem jamais transpô-la podemos acarretar numa infelicidade por nossa auto censura, o que pode vir a culminar numa depressão, afinal, usando um exemplo presente na vida de qualquer ser humano, se idealizamos um amor, uma paixão apenas para nós mesmos e vivemos com aquela imagem da pessoa desejada e do relacionamento desejado apenas conosco, sem jamais conseguir colocá-la em prática, isso pode nos levar a uma frustração, o que acarreta num auto-exílio do mundo, que pode nos levar a uma depressão. Portanto a imagem que criamos em nossa mente é extremamente importante, mas não se pode deixar que ela tome conta da nossa própria realidade, nem que ela simplesmente desapareça e seja relembrada apenas como uma lembrança de um dito “talvez”.
“Você vê apenas com o coração, o essencial é invisível para os olhos” (Antonie de Saint-Exupéry, 1938. – ilustrador e escritor francês). Talvez Saint-Exupéry tenha razão em um aspecto: o essencial é invisível para os olhos. A verdade nem sempre é aquela que vemos, mas aquela que desejamos ver, portanto a criamos em forma de imagem, que seja adequada a nossos padrões de humanidade que, por sua vez, tem traços de uma sociedade, por vezes conservadora demais.
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